Com a efervescente evolução tecnológica, tanto os sons que ouvimos como os equipamentos que temos acesso são forrados de recursos e efeitos. Criou-se uma ideia que guitarra só é guitarra quando se liga uma distorção.
É incontestável a importância que a saturação teve na história da guitarra e da música, mas o peso que teve o som limpo é ainda maior. Sem ele acordes, nuances e levadas rítmicas sincopadas não teriam o mesmo sabor. E isso não se limita ao terreno do Jazz ou do Blues. No Rock até nas variações mais pesadas o som limpo sempre se fez presente.
O guitarrista aprende a tocar com o som limpo, não é mesmo? Bem, ao menos é assim que deveria aprender e nem sempre acontece.
Através do som limpo podemos conhecer o instrumento, como dominá-lo, compreender a duração das suas notas, a noção de afinação, e claro, descobrir o seu verdadeiro som.
Costumo dizer que uma guitarra só precisa de duas virtudes para me encantar. Uma afinação precisa e constante, um som limpo bonito, equilibrado em toda a escala sem perder as características básicas do seu corte e construção.
Não é preciso abdicar de forma alguma da distorção ou dos leves e aveludados overdrives, mas na busca pelo timbre perfeito é preciso abrir um pouco mão do ganho para se chegar onde deseja. É muito mais cômodo para os ouvidos e fácil para as mãos o sustain e envolvência que a saturação traz, mas esse exagero mascara muito o potencial do instrumento e também a habilidade do músico.
Muitos guitarristas virtuosos que usam e abusam das distorções pesadas também precisam do som limpo na hora de calibrar o som. É aí que entra uma dica antiga e muito útil. A utilização de dois amplificadores. Um com distorção, outro limpo. A mistura destes dois sons, ajustada pelo ouvido do guitarrista, traz como resultado um som brilhante, cheio de detalhes e engana o ouvido tirando aquela sensação de distorção embolada. Isso também enaltece o timbre natural do instrumento, que como disse anteriormente é muito mais evidente quando tocamos com o som limpo.
Como a vida não está fácil pra ninguém, comprar dois amplificadores de qualidade para fazer essa brincadeira é algo fora de questão para a maioria dos guitarristas. Existem pedais de distorção e overdrive que trazem a função “mix clean”, mas também pode-se obter um resultado muito aproximado com outros pedais de mistura de efeitos.
Para quem curte sons mais calmos, fica a dica de tocar mais vezes tudo o que você já toca, mas desta feita com pouca ou até nenhuma saturação. Você vai se descobrir outro músico, com outro instrumento. É uma evolução do fim para o começo.
Agora quem já está acostumado só em tocar em drives com o ganho no "talo" (100%) tente tocar também tudo o que toca com pouquíssimo drive ou praticamente nenhum. Se não conseguiu, talvez esteja usando o som sujo com uma máscara.
Não se boicote, não mascare a sua arte.
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