sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Produção Musical IV - Captação das Bases




Aqui começa a produção propriamente dita, na forma de gravações em estúdio e/ou programações no computador. Quanto maior o domínio sobre os aspectos técnicos do estúdio, maior será a atenção dada à interpretação – que é o grande foco das fases de captação. O intérprete pode fazer toda a diferença em uma produção, como de fato acontece toda hora com cantores que parecem ter o “timbre perfeito” para aquela canção. Lembre-se, a seleção dos intérpretes, os testes e as decisões já deveriam ter sido feitos durante a pré-produção.

Com exceção de alguns estilos musicais e situações especiais, o processo de gravação é sempre do tipo multi-pista sequencial. Cada instrumentista ou grupo de instrumentistas registra sua parte, a qual será usada como fundo musical (playback) para a gravação do próximo e assim por diante. Quem começa e qual o playback do primeiro músico?

As bases costumam ser os primeiros elementos gravados.

Muitas vezes chamadas de "cozinha", constituem os elementos rítmicos, de tempo e marcação, como bateria, baixo e violão.

A gravação das bases independe dos solistas (vocais e instrumentos melódicos de destaque). No entanto, são essenciais para a boa performance dos mesmos, que virá a seguir. Como um vocalista conseguiria gravar sem escutar ritmo e harmonia? Qual o momento exato para a entrada do solo de saxofone? Todo solista precisa escutar a base da música para poder encaixar sua execução precisamente no ritmo e na harmonia.

A base rítmica inicia a fase de gravações, podendo utilizar um click (metrônomo) como referência de tempo. Está difícil? Utilize a gravação-guia como playback, mais uma utilidade para ela! Se tudo correu bem na pré-produção, a guia está exatamente no tempo, na tonalidade e na forma final da produção.

Em diversos estilos musicais, a base precisa soar orgânica. A gravação seqüencial corre o risco de soar artificial e portanto é comum que o baterista, o baixista e os demais instrumentistas da base gravem juntos, ao mesmo tempo, na mesma sala, buscando uma maior naturalidade na performance.

A qualidade acústica da sala e o conhecimento dos técnicos pesam muito na gravação das bases. Na verdade, em todas as captações, incluindo cobertura e overdubs, que veremos na sequência.

O estúdio deve ser encarado como mais um equipamento. A diferença é que ele está sempre funcionando, não tem controles e não pode ser desligado!
O som que escutamos interage diretamente com a sala e pode sofrer grandes alterações.

Um tratamento acústico adequado cria um ambiente propício para uma audição precisa, permite maior controle sobre as gravações e o equilíbrio sonoro. Uma sala problemática esconderá todo o potencial daqueles monitores de referência ou daqueles microfones que você acabou de comprar e não custaram barato.

Melhor gastar tempo dentro do estúdio, testando posicionamentos, instrumentos e equipamentos, do que perder ainda mais tempo na técnica durante a mixagem, correndo o risco de nunca atingir o resultado esperado.

As técnicas de microfonação têm um impacto enorme sobre o resultado final da produção.

Faça o teste: caminhe pelo estúdio enquanto está falando, perceba como cada posição gera um som distinto. As diferenças podem ser tão notáveis quanto uma equalização. O som muda como se estivéssemos aplicando efeitos durante a mixagem.

Antes de experimentar modelos de microfones ou selecionar equipamentos e plugins que serão aplicados ao áudio, escolha cuidadosamente a posição do instrumento e do microfone dentro da sala.

A característica acústica da sala determinará quais são as possibilidades (já experimentou gravar sua voz no banheiro?). Em outras palavras, a microfonação equivale a utilizarmos diferentes equipamentos nas etapas subseqüentes. Captar o timbre que se deseja neste momento é a melhor maneira de se evitar ajustes futuros que não serão tão eficientes quanto uma acústica realista e natural.

Produtor e técnicos devem estar muito familiarizados com o estúdio e seus equipamentos para que possam se concentrar na sonoridade, utilizando seu know-how de gravação. Os equipamentos têm um peso muito menor do que se costuma imaginar, ficando atrás da acústica, até mesmo da qualidade da energia elétrica em alguns casos.

No mundo do áudio profissional, sobretudo no Brasil, existe um super-valorização de equipamentos e softwares. Não caia nesta armadilha! Primeiro vem o conhecimento, depois as instalações (acústica e elétrica), por último, os equipamentos. Você ficará surpreso em saber que muitas das grandes produções que hoje escutamos foram realizadas com equipamentos extremamente simples, em salas nada ideais. Porém o know-how dos músicos e dos técnicos falou mais alto.

Você saberá dizer se a base está bem captada se os outros instrumentistas não tiverem dificuldades para acompanhá-la tocando suas partes. A levada é compatível com a intenção da música? Os tambores da bateria foram afinados? (acredite, é raro que se lembrem disso.) A harmonia conhecida de todos? Todas as sessões da música possuem os acordes cifrados, em uma partitura, tablatura ou qualquer outra forma de representação?

Durante as captações seguintes à base, um novo arranjador poderá participar do processo, adicionando ou substituindo instrumentos, pela falta de disponibilidade de músicos ou devido a problemas com algum instrumento. Dessa forma, alguns solistas que não participaram da pré-produção precisarão ter acesso a todas as informações musicais que sejam necessárias para suas performances. Documente, anote, organize-se.

Uma base bem gravada é a fundação da música e irá sustentar as demais performances. O tripé fundamental da música pop moderna é composto por Caixa-Bumbo-Baixo. Dedique especial atenção à captação destes elementos (ou aqueles que façam estes papéis).

Fonte: Dennis Zasnicoff

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