quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Qual a Madeira de seu instrumento ?





Maple, Spruce, Poplar… se você entende um pouco de instrumentos musicais já deve ter se deparado com esses nomes. Mas se você não conhece todos eles, vamos dar um explanada.

Antes de mais nada, é importante dizer que a madeira utilizada na fabricação de um instrumento é responsável por grande parte das suas características sonoras(como o timbre e o sustain) e claro, pelas características estéticas. É interessante notar que a madeira tem funções diferentes, dependendo da área em que será utilizada (tampo, laterais, braço, escala, fundo).

Vale lembrar que as principais madeiras usadas não representam todos os aspectos tonais do instrumento. Design, perícia do fabricante ou do luthier e qualidade de cada peça da madeira utilizada também são fatores importantes. Dito isso, já podemos falar um pouco sobre cada tipo de madeira.



Esta madeira norte-americana, de baixa densidade, é a mais utilizada hoje em dia para a fabricação do tampo, e o Sitka é a espécie mais comum. Sua alta rigidez, combinada com características macias e leves, faz com que soe naturalmente com uma alta velocidade de som.
Mesmo sendo tocado com força, essa madeira consegue soar com clareza, o que faz do Sitka uma excelente escolha para músicos cujo estilo exige uma resposta dinâmica ampla e um tom mais robusto. Por outro lado, a falta de uma tonalidade mais complexa faz com que Sitka soe um pouco fino aos leves toques, mas claro que tudo depende do desenho do instrumento e das demais madeiras envolvidas.



O Ovangkol é uma madeira original da África Ocidental. Normalmente, sua coloração vai do amarelo-marrom a marrom-escuro e possui listras que vão do cinza ao quase preto. A diversidade de Ovangkol e padrão de grão assemelham ao jacarandá da Índia oriental. Ele também compartilha algumas características com tons rosa, mas ostenta o “brilho” vivo encontrada em madeiras de média densidade, tais como o mogno, nogueira e koa.
Apesar de ser largamente utilizado em luthierias, o Ovangkol é uma madeira bastante exótica. Ela concebe timbres mais cheios e envolventes, corrigindo um pouco o déficit dos “médios” de outros violões Folk.



A Koa é uma madeira original do Hawaii, que parece estar em extinção, e por isso é mais cara e difícil de encontrar. Essa madeira, de média densidade, é muito usada em tampos, fundos e laterais de instrumentos acústicos. Tem desenho exótico, mas discreto, com uma coloração variando do rosa alaranjado até o marrom avermelhado.
É uma espécie de prima rica (em todos os sentidos) do mogno. Ela tem sido cada vez mais usada pelo pessoalfingerstile (cordas de aço) por causa da boa definição sem ser seco demais.



A Ash é uma madeira dura, porosa e de densidade média, mas muito bonita e com um som brilhante. Existem o Light Ash ou Swamp Ash, que é mais leve e tem um som menos encorpado, sendo que as fábricas preferem essa madeira ao Ash convencional, para que o instrumento não cause dor de coluna nos músicos.
Um instrumento com corpo feito em Ash é certamente mais pesado do que um em Alder, característica que favorece os médios e agudos. Esta madeira foi usada nas primeiras stratos e nas teles.



A Poplar é uma madeira fibrosa, densa, mas bastante leve e extraordinariamente ressonante. Quando usada em instrumentos de corpos sólidos, como em uma guitarra, possui um som muito nítido. Conhecida como tulipeiro, yellow poplar ou tulip wood, é uma madeira boa para quem gosta de um som mais limpo.





A Alder (ou amieiro, em português) possui um timbre caracteristicamente mais agudo, alta velocidade de propagação do som e bom sustain. Ela é uma madeira de baixa densidade muito utilizada na construção de corpos de guitarras sólidas, e tem como característica sonora um som mais aveludado com grave bastante profundo. Muitos músicos não gostam da sua aparência estética, mas concordam que ela favorece os médios e agudos. Muito versátil, a Alder fica boa com todos tipos de captadores.



O Basswood é uma madeira de baixa densidade, muito leve, estável e de timbre médio, muito utilizado na construção de corpos e braços de guitarras e contrabaixos, principalmente pelas suas excelentes respostas aos tons graves. Ela tem ataque moderado, umsustain incrível e resolução sonora perfeita; ótima para rock em volumes elevadíssimos, ajudando a não perder a resolução mesmo em altos volumes.
É uma madeira de fácil reflorestamento, que resulta em um bom custo-benefício. Não é ruim, como muitos pensam ser: o problema é que existe muito compensado de Basswood confundindo os menos entendidos.



O Cedro é uma madeira de média a baixa densidade, de fácil manuseio e bom sustain. Ela é muito estável, com timbre mais grave e aveludado. Utilizada na construção de corpos e braços de guitarra e baixo, reforço interno de violão, fundo e faixa de violão ou tampo, esta madeira é esteticamente bastante similar ao mogno, porém sua velocidade de propagação sonora é superior.





Madeira de altíssima densidade, muito sustain e alta reflexibilidade. O ébano tem um timbre agudo e muito estável, é a madeira mais cobiçada para escalas de instrumentos devido a sua dureza e alta resistência a empenamentos.
Sempre foi a favorita para a confecção das escalas de instrumentos musicais devido à sua grande dureza e resistência ao desgaste mecânico. Sua coloração negra e exótica cria um contraste muito bonito com o prateado dos trastes. Tem variedades originárias da África Continental, Madagascar e Índia. Atualmente, trata-se de uma madeira muito rara, quase beirando a extinção. Por ser de alta densidade e cara, é utilizada apenas nas escalas de instrumentos “top de linha” ou feitos por luthiers.



O jacarandá (também conhecido como rosewood) é a madeira preferida por luthiers do mundo todo para laterais, escalas e fundo, e em casos raros para o corpo de guitarras e baixos. Madeira de alta densidade, com muito sustain e um timbre grave e estalado, o Jacarandá é sem dúvida a mais cobiçada em instrumentos musicais.
Dentre os jacarandás, o mais apreciado é o baiano (nacional), graças à beleza incomparável e de grande variedade de colorido e figura. Geralmente avermelhada com listras negras, às vezes marrom escura ou quase preta. Suas reservas estão praticamente extintas, mas ele ainda pode ser encontrado nas regiões de Mata Atlântica brasileira. Sua exploração comercial está banida há vários anos.



Esta madeira tem cor clara e muito brilho natural. Sua sonoridade é diferente dos Jacarandás, pois não é tão profunda e não tem tanta sustentação, mas possui grande projeção e muito equilíbrio entre as frequências agudas, médias e graves. Estável e resistente, é originária das florestas de clima temperado da Europa e da América do Norte.
O maple é uma madeira muito utilizada na fabricação de fundos e faixas dos instrumentos da família do violino e das guitarras archtop acústicas, tampos de violão, braços e corpos de guitarra, devido ao desenho dos veios da madeira. Em alguns casos é possível encontrar escalas feitas com essa madeira, embora não seja a melhor escolha, por ser relativamente porosa, macia e clara. Portanto, se não for envernizada, a escala poderá sujar rapidamente.



Encontrado no Paraguai, Uruguai e Argentina, o marfim é uma madeira de grande beleza e relativamente fácil de ser encontrada nas madeireiras do Brasil, devido à sua popularidade como material de acabamento de interiores de residências e móveis. Sua densidade é boa e similar a dos Jacarandás, apresentando diversos tipos de figuras e podendo ser reta ou ondulada como o maple.
Os instrumentos feitos com esta madeira têm um bom som, porém com um pouco menos de sustentação que os de Jacarandá. Com um timbre agudo e grande resistência mecânica, ele é muito utilizado na fabricação de braços de guitarra e baixos e filetes decorativos. Tem boa estabilidade quando bem seca e quarteada, com uma coloração dourada clara e um brilho muito bonito.



Madeira de alta densidade, com muito sustain, média estabilidade, timbre grave e encorpado, além de uma grande resistência mecânica. O mogno, também conhecido como Mahogany, é muito utilizado na fabricação de corpos e braços de guitarras e baixos, fundo e faixa de violões.

Existe uma variedade bem grande de mogno, com texturas e influências diferentes. Mas de forma geral, para o tampo, ele tem um forte punchy produzindo bons sustenidos e uma velocidade de som relativamente lenta. Para o fundo e nas laterais, o mogno tem uma velocidade relativamente alta de som, tendendo a enfatizar os graves e agudos.

O mogno brasileiro é uma madeira de comercialização proibida em face do perigo de extinção, por isso é também uma das madeiras mais nobres e caras para a lutheria.



O marupá é uma madeira de média densidade, com bom sustain e boa estabilidade, além de um timbre agudo e boa resistência mecânica. É muito utilizada na fabricação de tampos, corpos de guitarra e baixos e em reforços internos de violões, o que garante um instrumento leve. Assim como o mogno, o marupá é uma madeira com baixa velocidade de propagação do som.

Encontrada na região norte do Brasil, é vulgarmente conhecida como caixeta, por ser utilizada também na fabricação de caixas de feiras. Esta madeira tem a textura e as características físicas muito parecidas com a do cedro rosa, diferindo apenas no cheiro e na cor. Seu cheiro é bastante neutro e a cor é um branco amarelado que cria um contraste bonito com madeiras mais claras como o mogno e o cedro. Geralmente os instrumentos fabricados com ela são pintados pelo fato de a madeira não ser bonita.

É uma madeira geralmente utilizada no Brasil para palitos de picolé e fósforo, cabos de vassoura, brinquedos e caixas de frutas. Todo mundo conhece o Marupá :). "Caxeta" ou "Caixeta" é um nome genérico dado a várias espécies similares, entre elas o Marupá. ( saber disso decepciona muita gente, mas vamos deixar isso pra um post mais técnico).



O pau-brasil possui um sustain constante, ataque moderado com uma boa massa sonora final. Também conhecido como pau-pernambuco, palo brasil ou pernambuco wood, é originário da na Mata Atlântica, mais precisamente no litoral da região nordeste e sudeste brasileira. Como é uma madeira rara, virtualmente extinta na natureza, seu preço e uso são proibitivos.

É uma madeira adequada apenas para a confecção de arcos de violino, viola, violoncelo e contrabaixo. Eventualmente pode ser também utilizada para a confecção de escalas, fundo e lateral de violão e para percussão, essa madeira é melhor para palhetadas e não tão boa para o dedilhado.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Abrangência Musical - Estilo, Técnica e Versatilidade




 Qual o critério para o estudo de gêneros musicais e técnicas de execução variadas, pois é sabido que ninguém pode aprender tudo, ou pelo menos ser bom em tudo. Então, a pergunta é, como ter uma boa abrangência musical, mas sem ficar apenas na superfície? 

Compreendo sua dúvida, pois, enquanto sabemos que é fundamental ter um estilo próprio para se diferenciar como guitarrista, também sabemos que um músico que só sabe fazer uma coisa vai sempre soar igual.

Parece ser um dilema: Devo ter um foco para fortalecer meu estilo ou devo me desenvolver em diversos estilos para ser versátil?

A questão é encontrar o equilíbrio entre estilo e versatilidade, tanto em termos de técnicas quanto de gêneros musicais.

Depende do seu objetivo

Essa pergunta é excelente e gera uma boa discussão. Não existe uma resposta simples, mas o primeiro passo é definir seu objetivo. Se você deseja ser um grande guitarrista de blues como B.B. King, não é necessário saber vários outros estilos. Você pode se concentrar no blues e outros estilos próximos a ele, como vou explicar mais na frente. Mas se o seu objetivo for compor músicas que permeiam vários estilos, ou até mesmo desenvolver seu próprio estilo, o caminho é diferente. E, ainda, se você pretende tocar músicas diversas de outros artistas, surge mais um caminho. Enfim, tudo depende do seu objetivo.

Foco e Curiosidade

Mas, de forma simples e direta, a minha sugestão é desenvolver a fundo seus estilos favoritos, que você mais gosta de tocar, e frequentemente buscar referências fora desses estilos. Ou seja, tenha foco e curiosidade.

Desenvolver-se a fundo num estilo é algo que leva tempo, por isso não dá pra fazer isso com muitos estilos se o tempo é escasso. Mas, aprender um pouco sobre alguns estilos que te interessam pode ser feito rapidamente. E você pode ter mais de um estilo principal também. Por exemplo, eu gosto muito de tocar rock e hard rock, com muita distorção, mas também passo muito tempo tocando reggae, algo que não tem nada a ver com esses outros estilos.

Se tocar vários estilos é algo que te dá prazer, vá em frente!

Ter curiosidade é estar sempre atento a coisas que podem despertar seu interesse e te deixar animado! Curiosidade é abrir os olhos e presenciar a beleza que há ao seu redor, e eventualmente aprender coisas novas para usar no dia-a-dia.

Por outro lado, ter foco é estar em linha com sua própria identidade. Quando as pessoas vão escutá-lo tocando, elas querem ver algo único, diferente dos outros.

Sei que pode soar paradoxal, mas quando escolhemos um foco, acabamos ampliando nosso leque. Estranho, não é? Mas isso acontece de fato, pois estilo e versatilidade são complementares, andam na mesma direção. Quando escolhemos um gênero musical como foco, acabamos descobrindo que há muita coisa interessante para explorar e aprender dentro desse tipo de música em termos de ritmos, técnicas, efeitos, timbres, licks, e acordes. E, ao desenvolver toda essa riqueza que há dentro de um estilo musical, acabamos nos tornando mais versáteis, podendo aplicar esses aprendizados em outros estilos. Afinal, em geral, uma técnica que serve para um estilo serve para outros também, como é o caso dos bends, vibratos, palhetada, etc.

Explore as adjacências

Se a música possui centenas de estilos e precisamos escolher para onde ir, por onde começar? A resposta é explorar os estilos ao redor do seu estilo favorito. Um grande exemplo disso é Johnny Hiland, um dos melhores guitarristas atuais de country. Sua diversidade técnica é impressionante e ele foi fundo em explorar tudo relacionado ao country, como blues e honky tonk, e muitos outros estilos relacionados.

Essa abordagem permite que você conecte os pontos de forma natural, pois estilos que estão próximos uns aos outros possuem muitas características em comum, então basta aprender alguns elementos novos e pronto, você agora consegue tocar mais um estilo em seu repertório. Além disso, você poderá ir além da superficialidade de um estilo. Se você estuda estilos desconexos, dificilmente conseguirá se aprofundar. Mas se eles estão interligados, é possível dominar todos eles.

Não caia na armadilha

A guitarra é um instrumento incrível porque permite tocar centenas de estilos diferentes. Mas isso não significa que um bom guitarrista é aquele que sabe tocar todos os estilos. Entre um guitarrista que é muito bom em apenas um estilo e outro que sabe tocar de tudo um pouco, em geral o primeiro é mais interessante. Afinal, quando queremos ouvir blues, buscamos um artista de blues, quando queremos ouvir bossa nova, buscamos um artista de bossa nova. Ninguém espera escutar vários gêneros em um só artista. Além disso, o tempo passado com muitos estilos poderia ser usado para se aprofundar nos estilos mais relevantes para você.

Criatividade por associações

Para os músicos que compõem ou gostam de improvisar, a criatividade é um fator crucial. A criatividade pode ser desenvolvida com a prática. Não vou entrar em detalhes aqui sobre isso, mas vale destacar que uma das principais abordagens que conhecemos para gerar ideias criativas são as associações. Através dessa abordagem, pensamos em duas ideias desconexas e tentamos imaginar diferentes formas de conectá-las. Os resultados são surpreendentes. Por exemplo, Randy Rhoads criou um estilo próprio de solar unindo música erudita com metal, e Zakk Wylde juntou country com hard rock em muitos de seus solos.

A mensagem aqui é que quanto mais estilos você conhecer, mais opções terá para combinar um estilo com o outro, nem que sejam apenas pequenos detalhes. Alimente sua curiosidade e colha os frutos.

Quantos estilos devo estudar?

Existem centenas de estilos interessantes para tocar. Só no Brasil deve ter mais de 50 estilos e variações. No Nordeste, por exemplo há uma diversidade enorme. Mas os estilos não vem até nós, precisamos ir até eles. Se queremos descobrir coisas novas, precisamos agir como exploradores numa verdadeira aventura musical.

Geralmente, associamos a cada país um tipo de música, mas a verdade é que o cenário musical de cada país é muito mais complexo. Se quisermos, podemos escutar um estilo diferente a cada dia de nossas vidas e nunca vamos esgotar as possibilidades. Por isso, não vamos deixar a busca por versatilidade e abrangência nos levar para a perda de foco. A quantidade de estilos que você vai estudar depende de quanto você quer se aprofundar em cada um deles e de quanto tempo você tem disponível. Vale a pena traçar uma meta. Por exemplo, “Quero poder tocar jazz no nível básico em 6 meses”. Aí, é só correr atrás do desafio!

Como ter abrangência musical

Como mencionei antes, aprender um estilo a fundo leva tempo, mas aprender superficialmente pode ser bem rápido, além de ser interessante para o seu desenvolvimento musical. Por exemplo, digamos que você toque blues e queira que essa seja sua especialidade. Nada te impede de querer aprender um pouco sobre country. Aí, minha sugestão é escolher uma música que represente bem esse estilo e aprender a tocá-la. Com apenas uma música você verá a enorme quantidade de elementos que um estilo pode conter. Você não se tornará um especialista nesse estilo, mas pelo menos terá a chance de descobrir alguns elementos que você pode aplicar no seu dia-a-dia.  A sua abrangência musical pode ser medida em quantas músicas de quantos gêneros você consegue tocar. Quem sabe, você acaba esbarrando em um estilo que te agrade tanto a ponto de você decidir se dedicar mais intensamente a ele.

Quer conhecer mais estilos musicais?




sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Slide Guitar - História e Técnica





Slide guitar, ou Bottleneck guitar , é uma forma de tocar guitarra, em que se utiliza geralmente no dedo anular ou mínimo, um pequeno tubo oco cilíndrico, feito de metal, vidro ou cerâmica. Com o objetivo fazer a entonação das notas não através dos trastes mas de forma flutuante, com que o instrumento não tivesse trastes, deslizando o tubo pelas cordas da guitarra. Este método, introduzido inicialmente na música do Hawaii, passou a ser utilizado nos blues (Blues rock) e no country.

Histórias da origem

Vou citar duas história referente a origem, pois se pesquisarmos vamos encontrar a Africana baseada no Arco de Diddley e outros a Joseph Kekuku do Hawaii.

Segundo a origem do Hawaii esse pequeno cilindro que se coloca no dedo para tocar guitarra foi descoberto por acaso no Havaí por um jovem chamado Joseph Kekuku, em 1889. Ele estava indo a pé para a escola com seu violão e um amigo quando pegou um pedaço de metal que encontrou na estrada. O pedaço de metal escorregou de sua mão e esbarrou nas cordas de seu violão, produzindo um som agradável. Intrigado, ele levou o objeto para casa e passou a explorar novos sons com ele em seu violão.

Depois ele criou o que hoje é conhecido como música havaina, foi para os EUA e popularizou o slide no país ao longo dos 28 anos em que viveu lá. O resultado foi que rapidamente a música country e depois o blues absorveram o slide entre suas principais técnicas. Nos anos 30, a guitarra havaiana foi a 1ª guitarra elétrica construída (com pequenas diferenças em relação à guitarra normal de hoje) e o sucesso do slide passou a crescer ainda mais rápido.

Hoje em dia, guitarristas como John Buttler (do John Buttler Trio) e Ben Harper (do Ben Harper and The Innocent Criminals) continuam a desenvolver a técnica. Mas o consenso geral é de que foi o guitarrista Duane Allman (do Allman Brothers Band) quem levou a técnica e a sonoridade do slide da guitarra no rock para um novo patamar.

Segundo a origem Africana o Slide teve influência direta dos Africanos que usava o Arco de Diddley" ( Instrumento constituído por uma única cadeia de arame sob tensão entre dois pregos de uma placa sobre uma garrafa de vidro, que é usado tanto como uma ponte e como um meio para aumentar o som do instrumento )


A técnica tornou-se popular por artistas de blues afro-americanos. O primeiro músico a ser gravado usando o estilo era Sylvester Weaver que gravou duas peças solo "Guitar Blues" e "Guitar Rag", em 1923. Alguns dos artistas de blues no sul dos Estados Unidos, que mais usaram o slide, incluem o cantor gospel Blind Willie Johnson, Blind Willie McTell, Son House, Robert Johnson (Rei do blues do delta) e Casey Bill Weldon. Provavelmente os primeiros influentes do blues elétrico no slide guitar é Elmore James, cujo riff na canção " Dust My Broom " é influência direta de Robert Johnson.

A lenda do blues Muddy Waters, foi a maior influência no blues depois de Robert Johnson. Seu talento foi decisivo para o desenvolvimento do blues elétrico de Chicago.

No Texas nos anos 60, o músico Johnny Winter desenvolveu com seu slide guitar técnico e preciso um estilo feroz e eletrizante. Gravou discos como o notável ¨¨The ProgressiveBlues Experiment¨ (1968) e junto com Muddy Waters, fez turnês e gravou o incrível disco ¨Hard Again¨ de 1977, ganhador do Grammy de melhor disco de blues.

Rory Gallagher, foi um irlandês mágico que incendiava plateias, seu potencial ao vivo era fantástico. Rory gravou vários shows de sua turnê de 1972 e lançou o álbum Live in Europe, com um estilo impressionante no slide guitar. Esse disco ficou entre os tops na Inglaterra e levou a Rory, ser eleito o músico do ano pelo jornal Melody Maker e também foi eleito o melhor guitarrista deste mesmo ano.

Eric Clapton , seu uso refinado do slide tem como maior influência Muddy Waters, Son House, Elmore James e Robert Johnson. Já Robert Johnson, recebeu em 2004, um tributo em CD e DVD, o incrível ¨Me and Mr. Johnson¨ . com covers dedicados ao seu mestre.

Roy Rogers aperfeiçoou suas habilidades de slide em turnês com o artista de blues John Lee Hooker . O primo de John Lee Hooker Earl pode ter sido o primeiro a usar wah-wah com slide guitar.

Como Alan Wilson, Duane Allman que usava o dedo médio como apoio do slide de vidro, desempenhou um papel fundamental em trazer o slide guitar para o rock, através de seu trabalho com The Allman Brothers Band, especificamente em 1971 com o álbum ao vivo no Fillmore East e com Derek and the Dominos o album " Layla and Other Assorted Love Songs ¨. Outros guitarristas de slide, como Jeff Beck, Bonnie Raitt, Rory Gallagher, Ronnie Wood, Billy Gibbons, Gary Rossington do Lynyrd Skynyrd, e Joe Walsh tem usado o dedo médio como apoio do slide. Allman ampliou a gama expressiva do slide guitar, incorporando os efeitos da gaita de Sonny Boy Williamson II, mais claramente pode ser ouvido essa influência na versão cover de Sonny Boy em "One Way Out", álbum Eat a Peach de Allman Brothers.



Lap Steel ( slide de colo )

Mais recentemente o estilo slide colo (lap steel) renasceu através de artistas como Ben Harper, Sean Kirkwood e Xavier Rudd - ambos tocadores de Weissenborns, antigo instrumento do começo do século 20, hoje com variações modernas, co-projetado modelo de assinatura Asher, este último usando reproduções modernas de weissenborn.


 A Técnica

1 - Em qual dedo usar
 Tanto faz. É uma escolha pessoal e depende de como cada um se sente melhor. Ao usar o dedo 4, deixa-se mais dedos livres para tocar acordes e riffs. Por outro lado, algumas pessoas podem preferir o dedo 2 ou 3 por serem mais firmes. O dedo 1 é menos comum.

Notação:
Dedo 1 = indicador
Dedo 2 = médio
Dedo 3 = anelar
Dedo 4 = mínimo

2 - Como posicionar o slide 
O slide deve encostar a corda bem em cima do traste e paralelo a ele. Você deve pressionar o slide com firmeza contra a corda para não sair aquele som tremido. Mas não deve pressionar com força, pois a corda nunca pode encostar no traste. Na verdade, o slide assume o papel dos trastes, que por sua vez passam a servir apenas para localizá-lo no braço da guitarra.
 Obs: se as cordas da sua guitarra estiverem muito baixas (muito próximas dos trastes), pode ser necessário mexer na regulagem dela para deixá-las mais altas.

3 - Abafar as cordas
 Provavelmente, a principal dúvida de alguém que está começando a tocar com slide é "Como faço para cortar todo esse ruído? Parece que tem um monte de notas sobrando e o som não está bom". A resposta é simples. Para acabar definitivamente com aqueles sons que aparecem por trás do slide, abafe as cordas. Quem toca com slide abafa as cordas o tempo todo.

Ao ver um vídeo de alguém tocando com um slide, observe que o guitarrista deixa pelo menos um dedo, além do slide, sobre as cordas da guitarra (como na foto acima). É porque ela está usando a mão para impedir que cordas que não estão sendo tocadas vibrem na hora errada.

É preciso abafar tanto com os dedos da mão do slide, quanto com a mão que toca as cordas. Digamos que você esteja usando o slide no dedo 3. Isso quer dizer que você pode usar o dedo 1 e o 2 para abafar as cordas por trás do slide. Eles devem encostar todas as cordas da guitarra paralelamente ao slide, como se eles estivessem fazendo uma pestana, mas sem pressionar as cordas. Apenas abafando-as. Assim, o único som que sairá da guitarra será o das notas que você está "slideando".

É bom também abafar as cordas com a mão que toca as cordas. Para quem toca sem palheta pode ser um pouco mais fácil, mas para quem toca com palheta, também não é nenhum mistério. Em ambos os casos, basta encontrar uma posição confortável para abafar as cordas que não estão sendo tocadas, usando os dedos que estiverem livres e as bordas da mão para encostar levemente sobre elas.

4 - Vibrato
 A diferença entre um iniciante e um guitarrista que já domina o slide é a forma como se toca cada nota. A graça do slide é poder deslizar pelas notas, passando suavemente por todas as notas que estiverem no meio do caminho. Mas não dá para ficar o tempo todo arrastando o slide pra lá e pra cá. É preciso parar nas principais notas do solo. Aquelas que fazem a diferença. A grande sacada, no entanto, é que você não pode parar. Pelo menos não totalmente.
 Para extrair aquele som característico do slide, em todas as notas que você parar, você deve executar um vibrato. Ele dará mais vida ao som de cada nota. Dessa forma, tocar guitarra com um slide pode ser visto como uma combinação de deslizadas de uma nota para outra e de vibratos nas principais notas. Tudo que você precisa aprender, após dominar a técnica, é desenvolver o feeling para saber em que notas parar e em que notas deslizar.

Obs: Note que o vibrato com slide é diferente do vibrato normal. Para executar o vibrato com slide basta deslizar para frente e para trás em torno da nota alvo, como se estivesse tremendo a mão. A amplitude dessa oscilação fica à escolha de cada guitarrista, mas geralmente é usada uma oscilação bem pequena.


5 - Confie no seu ouvido
 Ao tocar guitarra com slide, não se pode confiar totalmente na sua visão. Ao olhar para os trastes para saber se o slide está na posição certa, você pode acabar atingindo a nota errada. Isso ocorre porque o ângulo do olhar pode enganá-lo. A solução é simples: confie nos seus ouvidos e deixe-os guiá-los para as notas certas.

Além disso, o vibrato que você estará executando nas principais notas é uma forma de achar a posição certa do slide, através de pequenos ajustes na posição do vibrato. Não se preocupe em fazer um vibrato perfeito em torno da nota certa, pois é justamente essa pequena imprecisão que que torna único o som do slide.

6 - Escute The Allman Brothers Band

Todos os guitarristas de rock que usam slide tem uma dívida com Duane Allman, guitarrista da banda de blues e rock The Allman Brothers Band. Não é preciso falar muito sobre ele. Seus solos falam por si.
 Escute o álbum Live at Filmore East, a bíblia da guitarra slide do rock.

7 - Escute música havaiana

O 1º estilo de música a usar o slide para tocar guitarra foi a música havaiana. De fato, a música do Havaí é totalmente marcada pelo uso de slides. Chega a ser comum uma banda havaiana com dois guitarristas tocando de slide enquanto um violão ou ukelele mantém a base com acordes.

Ouça a clássica Blue Hawaii sendo tocada numa guitarra havaiana (hawaiian steel guitar) cuja principal diferença para a guitarra normal é a maior distância entre as cordas e o braço.
 Para encontrar mais vídeos de música e guitarra havaina, busque no YouTube pelas palavras-chave "hawaiian steel guitar" e "hawaiian lap steel guitar".

8 - Com Distorção vs. Sem Distorção

Uma coisa ótima para quem gosta de usar slide, é que eles são agradáveis tanto com sons limpos quanto com distorcidos.

Além da distorção, efeitos como Delay e Reverb também são muito bem vindos. Eles proporcionam sons psicodélicos e viajantes que guitarristas como David Gilmour, do Pink Floyd, adoram explorar.

Slide de Vidro vs. Slide de Metal

Os dois principais* tipos de slide são o de vidro e o de metal. Os dois são baratos, então pode ser interessante comprar os dois para ver qual você gosta mais. Os dois deslizam da mesma forma sobre as cordas, mas os timbres são diferentes. Geralmente, usa-se mais o slide de vidro (do tipo Pyrex) para tocar guitarra e o slide de metal para tocar violões com cordas de aço. Mas não há nenhuma regra. O slide de vidro tem um timbre mais suave. O de metal fornece sons mais estridentes e pode gerar um pouco mais de ruído.

Se você tem medo que o slide de vidro quebre facilmente, não se preocupe. Ele é mais resistente do que parece, pois não é exatamente o mesmo tipo de vidro de um copo, por exemplo.

A vantagem do slide de metal é que ele dá maior sustain. A desvantagem é que ele pode enferrujar por dentro com o tempo.

* Existem também slides de plástico e de porcelana, mas quase ninguém usa. O de porcelana é pouco comercializado e o de plástico não é recomendável.



Como treinar

Com um slide na mão você pode tirar os sons mais loucos da guitarra. Mas até chegar lá você precisa dominar a técnica. Para treinar, faça exercícios simples. Treine em uma corda de cada vez.

Exercício: Escolha uma corda, comece no primeiro traste e tente fazer a nota soar nítida, sempre usando o vibrato. Em seguida, deslize até o segundo traste e execute outro vibrato em torno dele. Vá fazendo isso até chegar no último traste. Após terminar essa corda, faça o mesmo nas outras. Isso é preciso, porque cada corda requer um sensibilidade diferente com o slide.

Depois de aprender a executar o vibrato com slide e conseguir fazer cada nota soar com perfeição, chegou a hora de treinar algo mais avançado (e interessante). Tocar slide muitas vezes requer alta precisão. E é isso que você treinará agora.

Exercício: Toque uma nota com o slide e deslize-o até uma outra nota que esteja bem longe do ponto de partida. O objetivo é treinar sua mira, para que, quando você estiver solando, não precise se preocupar com acertar as notas certas, mesmo em velocidades elevadas. Repita o exercício com diferentes combinações de notas e em cada uma das 6 cordas.


Guitarristas que usam slide, que vale apena pesquisar:

Alan Wilson - da banda Canned Heat
Ben Harper
Blind Willie Johnson - música Dark Was The Night
Bonnie Raitt
Chris Whitley
David Gilmour - do Pink Floyd
Debashish Bhattacharya
Derek Trucks
Duane Allman - escute a música Statesboro Blues!
Elmore James
George Harrison
Jerry Douglas
Joe Bonamassa
Joe Walsh
John Buttler
Johnny Winters
Leo Kottke
Mick Taylor
Mississipi Fred McDowell
Sonny Landreth
Muddy Waters - música Still a Fool
Robert Johnson
Robert Randolph
Ry Cooder
Son House
The Campbell Brothers
Warren Haynes
Watermelon Slim




quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Simuladores de Amplificadores e Pedais - Breve história e Plugins - Parte I




Antes de entrar no assunto, um breve histórico da simulação analógica e digital de amplificadores de guitarra:


O Rockman X100 (criado pelo Tom Scholz, guitarrista do Boston e engenheiro eletrônico, por volta dos anos 80), foi o primeiro "simulador" de amps/timbres e o mais legal é que podíamos usar fones de ouvido e gravar direto na mesa!. Pra quem quiser ouvi-lo, aqui tem alguns mp3: Rockman X100 





Em 1989, o Sansamp Classic, da Tech 21, foi ainda mais além na simulação analógica. Com pequenas chaves para ajustes, ele simulava desde Fender a Mesa Boogie. "Sans" em francês: "Sem": Sansamp: "Sem amp". Plugava direto na mesa de gravação ou ao vivo, fantástico.




Em 1997, surgiu o primeiro simulador digital, o POD, da Line 6. Na época, poder gravar as demos sem amp, microfones, com o Sansamp, já era fantástico, mas girar um botão do POD e trocar de amp/gabinete/microfone.




Com a evolução digital, os simuladores foram ficando cada vez melhores. Assim que lançaram primeiros para PC (plugins VST), como o Amplitube, Guitar Rig entre outros.

Toda essa intro foi pra dizer que, desde os anos 80, acompanho bem de perto a evolução dos simuladores de amp, sejam eles digitais ou analógicos.

Entretanto, desde o primeiro POD, eu percebi também as limitações desses processadores. A principal delas era a resposta quase linear do timbre à dinâmica, ou seja, palhetada fraca ou forte, pouca diferença no timbre. Isso não ocorre nos amps reais, principalmente os valvulados, onde cada dinâmica, cada palhetada, tem uma "cor" diferente, um som diferente. É sutil mas perceptível.
Essa deficiência tornava a simulação às vezes monótona e cansativa.

Falei no tempo passado, porque, com o lançamento do Amplitube 3 (e suas variantes: Amplitube Fender, Hendrix, etc.), essa barreira finalmente foi quebrada. As simulações do Amplitube 3 e principalmente do Amplitube Fender me deixaram boquiaberto, como não ficava há mais de 10 ou 15 anos. Absolutamente fantásticas!

As nuances dinâmicas estão presentes e cada vez melhores na maioria das simulações mais recentes. Até a versão 2 do Amplitube, o seu principal concorrente, Guitar Rig, era superior. Mas na versão 3 eles arrasaram. A 3.5 é ainda melhor e me parece que daqui pra frente, não tem limites, saiu a versão 4, e a tecnologia não tem limites e não dá pra saber  onde a coisa vai parar
( amplitube )


Segue alguns vídeos :

Excelente a idéia da IK Multimedia, criadora do Amplitube, de vender os amps (e gabinetes, efeitos, etc.) isoladamente. O Tiny Terror custa cerca de 18 dólares e seu gabinete, menos de 5...
Visite a Custom Shop da IK e dê uma checada no que tem disponível por lá:
Custom ShopAmplitube



      O Soldano, o Fender Princeton e Blues Jr., o Orange AD30... Incríveis!
As duas tecnologias exclusivas de simulação que colocaram a IK Multimedia (de origem italiana) na frente dos outros chamam-se: "DSM" - Dynamic Saturation Modeling e VRM - Volumetric Response Modeling. É por isso que a gente sente de fato o amp respondendo à nossa dinâmica.

E só agora percebi que ainda não cheguei no objetivo principal do post: usar o Amplitube para escolher seu TIPO de amp!
A maioria dos valvulados atuais, inclusive os nacionais, são baseados nos amps clássicos, portanto, podemos usar as ótimas simulações do Amplitube para definir qual amp, caixa, pedal (nunca tocou com um Tube Screamer? Lá tem um igualzinho) fica mais legal com a nossa guitarra ou com o nosso estilo.

Vale apena conferir ikmultimedia

Claro que temos a questão do computador, interface de áudio, monitor, etc. Não é o meu objetivo chegar até esse ponto, mas basta um computador legal, uma interface dedicada de áudio (USB, Firewire, PCI) e um bom par de fones de ouvido ou caixas de som, para a coisa acontecer.

Mas sempre lembrando que digital não é analógico, um simulador, sempre vai ser um simulador.

Boa diversão! :)


segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Produção Musical - Parte VII : Mixagem



Esta etapa só deve começar quando todas as captações estiverem concluídas, editadas e compiladas. Mixar, na verdade, nada mais é do que misturar.

Cada gravação foi registrada em uma trilha distinta no computador ou fita. Durante a mixagem, várias trilhas tocam ao mesmo tempo enquanto o técnico mistura a proporção (volume), a posição (esquerda, fundo, etc.) e os efeitos de cada uma delas, buscando clareza, impacto, interesse.

A mixagem não precisa ser estática! Um instrumento podem variar de intensidade durante a música, mudar de posição, parar de tocar ou soar com outro timbre em algumas partes da música. Essa imensa gama de possibilidades faz com que cada mix seja diferente do outro.

A grande lei da mixagem é que cada elemento precisa ter um propósito bem definido, para se evitar congestionamento de informações. Via de regra, menos é mais. Nossa tendência é adicionar para enriquecer, enquanto que retirar pode ser o melhor caminho quando se deseja criar variedade e interesse.

Durante as gravações, provavelmente técnico e produtor fizeram alguns rough mixes para facilitar overdubs e coberturas. Estes mixes possuem um grande valor e podem ser usados como referência durante a mixagem, assegurando que a proposta original não seja esquecida. Se o rough mix não estiver suficientemente desenhado para servir de base para a mixagem que se inicia, o produtor criará um neste momento.

Um excelente indicador da qualidade da pré-produção (e das gravações) é conseguir fazer um rough mix em poucos minutos, no qual todas as trilhas estejam audíveis e claras, sem a necessidade de explorar intensamente recursos da mesa (real ou virtual). Se o rough mix está soando bem então as trilhas devem estar mais do que prontas para serem mixadas.

Se houver tempo, peça que cada músico da banda faça sua própria mixagem. Os resultados podem ser surpreendentes! Há diversos casos de produções que acabaram utilizando um rough mix como versão final da mixagem, porque não conseguiram criar uma mais interessante depois.

Mixar é um processo tanto artístico quanto técnico. O engenheiro (técnico) de mixagem, juntamente com o produtor, pode levar a produção para caminhos totalmente distintos e até irreconhecíveis. Por isso é importante revisitar, de tempos em tempos, o registro original, a gravação-guia, o rough mix e as referências fornecidas pelo artista.

Quatro diferentes domínios são explorados durante a mixagem: Volume, Espectro, Panorama e Profundidade. Qualquer atividade realizada durante o mix, inevitavelmente vai interferir em um ou mais destes domínios.

O conceito de “mixagem” costuma ser confundido com criação, gravação, até mesmo com a produção. Na verdade, trata-se apenas de uma das etapas e deveria ser realizada na ordem proposta neste manual. Se a mixagem começar a modificar profundamente a forma ou a instrumentação da música, estará de fato fazendo o papel de pré-produção, podendo influenciar muito mais no resultado final, mas normalmente de uma maneira negativa.

Um dos aspectos mais importantes da mixagem é a correta monitoração, afinal técnico e produtor farão muitas decisões baseadas no que estão ouvindo. O que escutam deve representar com fidelidade o que está gravado. Pode parecer óbvio, mas é comum o sistema de monitoração (sala, amplificadores, monitores, posição de audição) ser menos do que aceitável, refletindo em erros que serão revelados mais tarde, na masterização.

Uma monitoração deficiente modifica a percepção de timbres, profundidade, panorama, detalhamento, ruídos, efeitos, equilíbrio. Mais uma vez, o desempenho acústico da sala se mostra a variável mais importante, juntamente com ouvidos bem treinados.

O técnico tem papel crucial no fluxo da mixagem. Um profissional experiente conhece as linguagens do meio e pode se comunicar facilmente com artistas e produtor. A economia de tempo e esforço é grande, ainda mais se há domínio sobre os equipamentos. Sua atenção deve estar voltada para os aspectos técnicos da produção, e não ao funcionamento de hardware e software. Há produtores que sempre trabalham com o mesmo técnico, pois reconhecem as vantagens de uma boa interação dentro da sala de controle.

A familiaridade do técnico com a sala, bem como as características acústicas da monitoração, têm grande peso no resultado. Não é por acaso que as produções caseiras não costumam soar tão bem.
Além de volumes (níveis) e panorama (esquerda-centro-direita), os processamentos mais comuns durante a mixagem são:

●Equalização – corretiva e criativa, retira excessos ou compensa faltas. Modifica o equilíbrio entre as freqüências (graves, médios, agudos), destacando elementos, corrigindo timbres ou evitando o congestionamento no espectro sonoro. Nossos ouvidos têm dificuldade para separar informações e a mixagem precisa auxiliar neste processo. EQ é uma das ferramentas disponíveis durante o mix.

●Compressão – basicamente, controla as variações de volume de uma trilha ou conjunto de trilhas. Alguns estilos musicais pedem maior uniformidade – pouca diferença entre os sons baixos e altos - daí o nome “compressão”. Compressores são comumente mal utilizados e podem acabar com a dinâmica natural da música.

●Reverb/Delay – os sons naturais que escutamos resultam da soma do som direto com reflexões do ambiente. Algumas reflexões são mais notáveis, outras formam um “rastro” de som. Estas informações influenciam diretamente na nossa percepção de distância, tamanho de sala, naturalidade etc. Delays e reverbs artificiais podem melhorar o realismo, a espacialidade e o impacto de instrumentos, muitas vezes colocando-os numa mesma “sala virtual”.

O mix final é avaliado pela equipe de produção e pelos artistas numa sessão de audição. Profissionais da gravadora também costumam participar desta sessão. O áudio final, normalmente em estéreo, é gravado com alta qualidade em um formato confiável e de fácil manipulação pelo engenheiro de mixagem.

Antigamente, o mixdown (ou bounce) era realizado em tempo real, através de um console de mixagem. As trilhas, já editadas e sincronizadas entre si, eram tocadas simultaneamente enquanto o engenheiro de mixagem (auxiliado por outras várias mãos) operava os inúmeros controles de volume, panorama, mandadas de efeitos, equalizadores e compressores.

Com a evolução dos consoles, várias destas operações passaram a ser automatizadas. As variações durante a música, sobretudo os faders de volume, podiam ser planejadas e programadas com antecedência. Durante a gravação do mix final, estes controles moviam-se “sozinhos” através de motores, facilitando o trabalho e melhorando a precisão do mix.

Hoje em dia, além de podermos automatizar virtualmente qualquer controle dentro do computador, também não é mais necessário que se utilize um console de mixagem grande, caro e faminto de manutenção regular. Há quem ainda prefira fazer a mixagem “out of the box”, ou fora do computador. Nesses casos, o computador funciona como um gravador multi-pista (fornecendo as trilhas para o console) e como um gravador estéreo (recebendo o mixdown de volta).

As razões para se utilizar um console externo podem ser variadas. Muitos engenheiros trabalharam anos e anos com um determinado console e, de fato, tendem a ser muito mais práticos, rápidos e precisos quando utilizam suas mãos, ao invés de mouse e teclado. Outros alegam que a qualidade do áudio é incomparável, recusando-se a mixar digitalmente.

Particularmente, não acredito na diferença de qualidade de áudio. Conforme vimos anteriormente, diversos fatores influenciam no resultado final, e não apenas uma das etapas, ou um equipamento em particular. Minha sugestão é que o técnico utilize o método com o qual se sente mais confortável.

Também é possível utilizar superfícies de controle externas que “simulam” um console de mixagem e trazem os benefícios dos dois mundos.

Este registro da mixagem final, copiado e arquivado, chama-se de “master mix”. No futuro, as eventuais remasterizações para formatos variados (incluindo aqueles que ainda nem existem), serão feitas a partir dele. Quanto melhor a qualidade de áudio do master mix, maiores e melhores as possibilidades de masterização para diferentes formatos e públicos: CD, SACD, vinil etc.

Um dos erros mais comuns durante mixagem é adiantar-se e tentar “masterizar” o mix final na mesma etapa. Assim como não é recomendado cortar o próprio cabelo, a masterização deve ser feita por um outro profissional que esteja menos envolvido no processo de produção e ofereça uma visão externa, treinada, mais objetiva e sem influências.

Fonte: Dennis Zasnicoff