segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Produção Musical - Parte VII : Mixagem



Esta etapa só deve começar quando todas as captações estiverem concluídas, editadas e compiladas. Mixar, na verdade, nada mais é do que misturar.

Cada gravação foi registrada em uma trilha distinta no computador ou fita. Durante a mixagem, várias trilhas tocam ao mesmo tempo enquanto o técnico mistura a proporção (volume), a posição (esquerda, fundo, etc.) e os efeitos de cada uma delas, buscando clareza, impacto, interesse.

A mixagem não precisa ser estática! Um instrumento podem variar de intensidade durante a música, mudar de posição, parar de tocar ou soar com outro timbre em algumas partes da música. Essa imensa gama de possibilidades faz com que cada mix seja diferente do outro.

A grande lei da mixagem é que cada elemento precisa ter um propósito bem definido, para se evitar congestionamento de informações. Via de regra, menos é mais. Nossa tendência é adicionar para enriquecer, enquanto que retirar pode ser o melhor caminho quando se deseja criar variedade e interesse.

Durante as gravações, provavelmente técnico e produtor fizeram alguns rough mixes para facilitar overdubs e coberturas. Estes mixes possuem um grande valor e podem ser usados como referência durante a mixagem, assegurando que a proposta original não seja esquecida. Se o rough mix não estiver suficientemente desenhado para servir de base para a mixagem que se inicia, o produtor criará um neste momento.

Um excelente indicador da qualidade da pré-produção (e das gravações) é conseguir fazer um rough mix em poucos minutos, no qual todas as trilhas estejam audíveis e claras, sem a necessidade de explorar intensamente recursos da mesa (real ou virtual). Se o rough mix está soando bem então as trilhas devem estar mais do que prontas para serem mixadas.

Se houver tempo, peça que cada músico da banda faça sua própria mixagem. Os resultados podem ser surpreendentes! Há diversos casos de produções que acabaram utilizando um rough mix como versão final da mixagem, porque não conseguiram criar uma mais interessante depois.

Mixar é um processo tanto artístico quanto técnico. O engenheiro (técnico) de mixagem, juntamente com o produtor, pode levar a produção para caminhos totalmente distintos e até irreconhecíveis. Por isso é importante revisitar, de tempos em tempos, o registro original, a gravação-guia, o rough mix e as referências fornecidas pelo artista.

Quatro diferentes domínios são explorados durante a mixagem: Volume, Espectro, Panorama e Profundidade. Qualquer atividade realizada durante o mix, inevitavelmente vai interferir em um ou mais destes domínios.

O conceito de “mixagem” costuma ser confundido com criação, gravação, até mesmo com a produção. Na verdade, trata-se apenas de uma das etapas e deveria ser realizada na ordem proposta neste manual. Se a mixagem começar a modificar profundamente a forma ou a instrumentação da música, estará de fato fazendo o papel de pré-produção, podendo influenciar muito mais no resultado final, mas normalmente de uma maneira negativa.

Um dos aspectos mais importantes da mixagem é a correta monitoração, afinal técnico e produtor farão muitas decisões baseadas no que estão ouvindo. O que escutam deve representar com fidelidade o que está gravado. Pode parecer óbvio, mas é comum o sistema de monitoração (sala, amplificadores, monitores, posição de audição) ser menos do que aceitável, refletindo em erros que serão revelados mais tarde, na masterização.

Uma monitoração deficiente modifica a percepção de timbres, profundidade, panorama, detalhamento, ruídos, efeitos, equilíbrio. Mais uma vez, o desempenho acústico da sala se mostra a variável mais importante, juntamente com ouvidos bem treinados.

O técnico tem papel crucial no fluxo da mixagem. Um profissional experiente conhece as linguagens do meio e pode se comunicar facilmente com artistas e produtor. A economia de tempo e esforço é grande, ainda mais se há domínio sobre os equipamentos. Sua atenção deve estar voltada para os aspectos técnicos da produção, e não ao funcionamento de hardware e software. Há produtores que sempre trabalham com o mesmo técnico, pois reconhecem as vantagens de uma boa interação dentro da sala de controle.

A familiaridade do técnico com a sala, bem como as características acústicas da monitoração, têm grande peso no resultado. Não é por acaso que as produções caseiras não costumam soar tão bem.
Além de volumes (níveis) e panorama (esquerda-centro-direita), os processamentos mais comuns durante a mixagem são:

●Equalização – corretiva e criativa, retira excessos ou compensa faltas. Modifica o equilíbrio entre as freqüências (graves, médios, agudos), destacando elementos, corrigindo timbres ou evitando o congestionamento no espectro sonoro. Nossos ouvidos têm dificuldade para separar informações e a mixagem precisa auxiliar neste processo. EQ é uma das ferramentas disponíveis durante o mix.

●Compressão – basicamente, controla as variações de volume de uma trilha ou conjunto de trilhas. Alguns estilos musicais pedem maior uniformidade – pouca diferença entre os sons baixos e altos - daí o nome “compressão”. Compressores são comumente mal utilizados e podem acabar com a dinâmica natural da música.

●Reverb/Delay – os sons naturais que escutamos resultam da soma do som direto com reflexões do ambiente. Algumas reflexões são mais notáveis, outras formam um “rastro” de som. Estas informações influenciam diretamente na nossa percepção de distância, tamanho de sala, naturalidade etc. Delays e reverbs artificiais podem melhorar o realismo, a espacialidade e o impacto de instrumentos, muitas vezes colocando-os numa mesma “sala virtual”.

O mix final é avaliado pela equipe de produção e pelos artistas numa sessão de audição. Profissionais da gravadora também costumam participar desta sessão. O áudio final, normalmente em estéreo, é gravado com alta qualidade em um formato confiável e de fácil manipulação pelo engenheiro de mixagem.

Antigamente, o mixdown (ou bounce) era realizado em tempo real, através de um console de mixagem. As trilhas, já editadas e sincronizadas entre si, eram tocadas simultaneamente enquanto o engenheiro de mixagem (auxiliado por outras várias mãos) operava os inúmeros controles de volume, panorama, mandadas de efeitos, equalizadores e compressores.

Com a evolução dos consoles, várias destas operações passaram a ser automatizadas. As variações durante a música, sobretudo os faders de volume, podiam ser planejadas e programadas com antecedência. Durante a gravação do mix final, estes controles moviam-se “sozinhos” através de motores, facilitando o trabalho e melhorando a precisão do mix.

Hoje em dia, além de podermos automatizar virtualmente qualquer controle dentro do computador, também não é mais necessário que se utilize um console de mixagem grande, caro e faminto de manutenção regular. Há quem ainda prefira fazer a mixagem “out of the box”, ou fora do computador. Nesses casos, o computador funciona como um gravador multi-pista (fornecendo as trilhas para o console) e como um gravador estéreo (recebendo o mixdown de volta).

As razões para se utilizar um console externo podem ser variadas. Muitos engenheiros trabalharam anos e anos com um determinado console e, de fato, tendem a ser muito mais práticos, rápidos e precisos quando utilizam suas mãos, ao invés de mouse e teclado. Outros alegam que a qualidade do áudio é incomparável, recusando-se a mixar digitalmente.

Particularmente, não acredito na diferença de qualidade de áudio. Conforme vimos anteriormente, diversos fatores influenciam no resultado final, e não apenas uma das etapas, ou um equipamento em particular. Minha sugestão é que o técnico utilize o método com o qual se sente mais confortável.

Também é possível utilizar superfícies de controle externas que “simulam” um console de mixagem e trazem os benefícios dos dois mundos.

Este registro da mixagem final, copiado e arquivado, chama-se de “master mix”. No futuro, as eventuais remasterizações para formatos variados (incluindo aqueles que ainda nem existem), serão feitas a partir dele. Quanto melhor a qualidade de áudio do master mix, maiores e melhores as possibilidades de masterização para diferentes formatos e públicos: CD, SACD, vinil etc.

Um dos erros mais comuns durante mixagem é adiantar-se e tentar “masterizar” o mix final na mesma etapa. Assim como não é recomendado cortar o próprio cabelo, a masterização deve ser feita por um outro profissional que esteja menos envolvido no processo de produção e ofereça uma visão externa, treinada, mais objetiva e sem influências.

Fonte: Dennis Zasnicoff

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