quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Produção Musical - Parte VI - Overdubs e Rough Mix




Frequentemente, algumas das trilhas gravadas precisam de ajustes. Uma audição detalhada poderá revelar ruídos de captação, erros de tempo ou notas desafinadas. Talvez o vocalista estivesse resfriado ou pouco inspirado, a pele de um tambor da bateria pode ter desafinado ou um cachorro apareceu latindo bem no meio da bridge.

Os overdubs são regravações de passagens que precisam ser melhoradas*. Corrigem erros de captação e permitem a “colagem” de partes para a composição de uma frase musical perfeita.
(*tecnicamente, podem se referir a qualquer gravação realizada sobre outras)

Quando a linha melódica é complexa ou rápida demais para ser executada com perfeição em um só take, o processo de overdub permite que um trecho seja gravado repetidas vezes, em loop. Posteriormente, técnico e produtor podem montar um take perfeito com as melhores partes de cada trecho gravado. Esta técnica é conhecida como comping.

Uma sessão de overdub oferece atenção especial ao solista. Grande parte da equipe está concentrada em uma só performance, um instrumento, um microfone. Vários takes podem ser gravados em loop enquanto existe comunicação em tempo real com o artista - comentários, avaliações, sugestões.

Um perigo é o overdub soar fora de contexto, porque normalmente os takes são gravados em salas (acústicas) diferentes da originalmente usada para as bases ou coberturas, com grande espaçamento de tempo. Além disso, o uso de fones de ouvido e a ausência de outros instrumentistas na sessão de gravação podem criar um “isolamento” para o músico, dificultando sua performance. Quanto mais acostumado com o ambiente de estúdio, melhores as chances do artista desenvolver sua gravação sem dificuldades.

O mix que o artista escuta durante o overdub está agora bem completo, com base e cobertura. Mas ainda não se trata da mixagem final, que tomará bastante tempo e atenção na próxima fase. Assim, este “mix rascunho”, ou rough mix, pelo menos permite que a gravação ocorrendo neste momento se encaixe no contexto. Os efeitos aplicados sobre o rough mix e o próprio overdub (como compressão e reverberação) são ouvidos pelo músico em tempo real, nos seus headphones, ajudando a melhorar sua interpretação.

O rough mix, ou “mixagem rascunho”, auxilia na gravação dos overdubs e ainda tem outras utilidades.

Este rough mix é resultado de uma mixagem rápida, simples e intuitiva, geralmente com participação de muitas pessoas na sala de controle (técnicos e músicos). Por este motivo, representa o sentimento espontâneo da equipe durante as sessões de gravação e deverá ser revisitado regularmente durante a mixagem, para que conceitos e idéias importantes não sejam perdidos.

Durante os takes, é essencial que o músico tenha total conhecimento da forma da música, suas entradas e saídas, letras e harmonia, para que o processo não se prolongue e nem se torne cansativo. 

A boa comunicação entre técnico e artista agiliza bastante as gravações e, para tanto, são utilizados gestos previamente combinados e microfones de talkback. Muitos overdubs, sobretudo aqueles que não dependem da acústica de uma sala grande e viva, acontecem dentro da própria técnica e isso colabora bastante para o entrosamento entre técnico, artista e produtor.

Um ambiente agradável, confortável e criativo retira a pressão do artista e do técnico, favorecendo a música. Técnicos devem ter especial cuidado para não interferirem na performance do artista com erros de operação, preocupando-se em testar e instalar equipamentos com antecedência.

Da mesma forma, artistas devem respeitar as limitações tecnológicas (mesmo que aparentemente não existam) entregando uma performance ensaiada, de alta qualidade, pois raramente “consertar na mixagem” é a melhor saída. Há um limite do que se pode fazer durante a mixagem. Vale sempre lembrar que a gravação (performance, captação) tem muito mais influência no resultado final do que as fases seguintes, como edição e mixagem.

Nem sempre as etapas de captação (base, cobertura e overdubs) precisam ser encaradas como processos independentes. Muitos artistas desempenham nitidamente melhor quando tocam juntos. 

Mas, naturalmente, quanto mais complexo o arranjo ou quanto maior a dificuldade de cada frase instrumental, mais caminhamos para gravações independentes e isoladas. Neste cenário sequencial, o aluguel do estúdio pode ser planejado para cada uma das etapas e somente os músicos essenciais para cada take precisam estar presentes naquele período de gravação.

O produtor (ou técnico) pode realizar um mixdown das trilhas já gravadas para que todos possam escutar em casa, no carro ou no próprio estúdio. É uma boa ideia exportar a sessão do software (DAW) para o desenvolvimento de rough-mixes fora do tempo de estúdio.

O setup de gravação - conexão de cabos e equipamentos, preparação da sessão no computador, seleção de microfones, posicionamento de instrumentos e amplificadores, técnicas de microfonação – costuma tomar muito tempo. Idealmente, um assistente de já estaria familiarizado com as necessidades de cada faixa e take através de uma reunião prévia com o produtor. Alguns estúdios oferecem uma tolerância de tempo para montagem e desmontagem, outros permitem a realização do setup na noite anterior.

Informe-se com o seu estúdio e certifique-se de que o produtor está a par de todos os detalhes que envolvem a operação – horários de funcionamento, taxas especiais em horários alternativos, pausas para refeições, políticas de acesso de pessoas, equipamentos disponíveis e seu estado de funcionamento, disponibilidade de um técnico de gravação, formatos de áudio, vazamento de ruídos, backup de arquivos e transferência de dados.

A música deveria soar relativamente bem logo após as gravações, no rough mix, sem precisar de muitos efeitos, equalização etc. Demorei muito tempo para aprender esta lição. Se não soar bem* neste momento, é sinal de que ainda é preciso realizar outras gravações, possivelmente voltar à pré-produção e adiar as sessões de mixagem.
(*”bem” não significa “finalizado” ou “comercial”, com prática, aprendemos a julgar os takes nesta fase da produção, entendendo que não precisam soar lapidados, mas sim convincentes)

Todas as trilhas foram analisadas do começo ao fim? Há consistência nos takes, principalmente entre aqueles de um mesmo instrumento ou voz?

A avaliação das gravações pode ser feita através da audição do rough mix. Nas suas primeiras produções, é bem difícil conseguir um som “profissional”. Não existe uma receita, senão seria fácil ensinar e aprender. O som final é resultado de muitos fatores: músicos, sala, instrumentos, equipamentos, posicionamento, técnico...


Fonte: Dennis Zasnicoff

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