sábado, 12 de março de 2016

Centros Tonais - Parte I



O estudo do Centro Tonal é de grande valor para todos aqueles que querem e precisam desenvolver-se musicalmente. Sabemos que a música é dividida em harmonia, melodia e ritmo. Nesse artigo trataremos do aspecto harmônico. Embora alguns possam dizer que podemos ter música apenas com melodia e ritmo, eu discordo, pois mesmo que ninguém esteja executando a harmonia em algum instrumento, a melodia por si só carrega em sua sucessão de notas a harmonia intrínseca à ela. Concluímos então que os acordes (harmonia) são formados a partir de um motivo melódico.
Partindo deste princípio, e entendendo que as melodias são formadas com base em uma determinada escala, chegamos à conclusão lógica de que a harmonia correspondente a uma melodia só pode ter sua origem na mesma escala que serviu de matéria-prima para a melodia. Assim determinamos a tonalidade.
Num contexto radical de tonalidade, todos os elementos da progressão são subordinados a determinado centro tonal e se movem através de realizações cadenciais. Portanto, a tonalidade é um relacionamento entre a escala e os acordes. Normalmente três acordes são necessários para produzir uma sensação de tonalidade.
Um som musical é constituído de outros sons ou frequências, os harmônico superiores. O que chamamos de série harmônica. Esses harmônicos combinados entre si, formam um acorde. Se tocarmos um som fundamental  teremos a seguinte série harmônica:
dó – dó – sol – dó – mi – sol – sib – dó – ré – mi – -fá# – sol – lá
 é logicamente o som principal por ser a raiz da série.
Depois do , a nota que mais se repete é o sol, além de ser a primeira nota diferente a surgir depois da raiz (terceiro harmônico).
Se pegarmos este sol e tornarmos ele o som fundamental obteremos os seguintes harmônicos:
sol – sol – ré – sol – si – ré etc.
A nota sol obtivemos a partir da raiz . Logo temos os harmônicos superiores de um harmônico superior (sol em relação a ).
Partindo-se desta circunstância de que um som fundamental sol depende de um um som situado a uma quinta baixo dele (), concluímos, por sua vez, que o som dó também depende de uma quinta abaixo dele, ou seja, um .
Assim temos um grupo de três grupos tonais tendo o som  como centro e raiz e as notas  e sol orbitando ao seu redor como num centro gravitacional.
Sol  <  Dó  >  Fá
Assim, sol depende de  na mesma direção que  sofre influência de . Esses três sons estão numa relação estreita. São sons muito próximos, e essa proximidade garante ao som fundamental (central) estabilidade por meio do equilíbrio das forças atuando em direções opostas.
Ao sobrepormos e somarmos os harmônicos superiores dos três sons obteremos o seguinte resultado:
FÁ :  fá dó fá lá
DÓ:      dó sol dó mi
SOL:         sol ré sol si
Eliminando-se as repetições e colocando as notas notas em ordem sucessiva chegaremos à nossa escala diatônica Maior.
dó ré mi fá sol lá si
Arnold Schoenberg argumenta que “se a escala é a imitação do som horizontalmente, em sucessão, os acordes são a imitação vertical, simultânea. A escala é análise do som, assim como o acorde é a síntese”. Isso nos faz voltar no que escrevi mais acima, sobre a relação entre melodia e harmonia. As duas se entrelaçam de modo pungente não por motivos puramente teóricos, mas por força da própria origem do som.
Concluímos então, que o centro tonal encerra-se nesses três acordes oriundos da série harmônica, bem como a escala resultante. Os três acordes (G – C – F) selam, por assim dizer, a tonalidade, sendo suficientes para toda a compreensão tonal através da tensão e relaxamento dos acordes entorno do acorde principal.
A escala porém constitui-se de sete notas. A partir de cada grau dessa escala podemos formar agrupamentos (acordes) no mesmo padrão que originaram os três acordes que geram a força tonal. Portanto construindo as tríades sobre cada grau da escala teremos a seguinte sequência harmônica:

xxx
        C                 Dm              Em              Fm              G                Am              Bm(b5)
campo harmonico
Esses acordes formados a partir dos graus secundários da escala servem de decoração para os três pilares fundamentais da tonalidade. Logo, esses acordes, que podemos chama-los de secundários, terão de certa maneira, alguma relação funcional com três pilares harmônicos. Esse grupo de sete acordes é comumente chamado de campo harmônico.
Podemos, portanto, com estes sete acordes analisar, entender e executar grande parte das peças musicais de nosso tempo. Se entendermos as relações destes acordes com som principal, a melodia e a harmonia das peças musicais serão, para nós, muito mais do que agrupamentos de notas e acordes que em nossa mente não fazem sentido lógico, mesmo que nosso senso estético consiga de alguma maneira compreender.
Para que possamos fazer um uso prático deste pensamento teórico no nosso cotidiano, cabe a nós, músicos, empregar esforços para que nosso senso estético se una aos conceitos teóricos possibilitando um alargamento das fronteiras do nosso aprendizado, resultando em melhor execução musical, que por sua vez, resulta fluidez artística tão necessária para a cultura atual.

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