Desde o momento em que os instrumentos começaram a ser fabricados em madeira, foi necessário a utilização de algo para protegê-los. Seja para proteger o instrumento do músico (o suor pode causar muito desgaste, basta ver como ficam as ferragens douradas) ou da ação da natureza, a madeira tem que ser muito bem cuidada para que o instrumento dure. Isso ocorre pois as madeiras usadas pra a construção de instrumentos musicais são bem frágeis.Algumas madeiras, como o alder, o basswood, o marupá, são facilmente danificados com qualquer batidinha. Outras madeiras, como o maple, tendem a deformar ou talvez até mesmo rachar sob a influência de sais, ácidos, umidade ou uma combinação dessas influências.
Algumas madeiras não precisam de uma camada espessa de verniz ou seladora, uma camada fina já funciona para proteger o instrumento (um exemplo são os braços das MusicMan, que possuem um acabamento simples em óleo, o famoso Tru-Oil, para que você sinta a madeira crua nas mãos e tenha a proteção mesmo assim). Outras madeiras, no entanto, nem precisam de acabamento, como é o caso do Rosewood (jacarandá) e o Ébano.
A fim de assegurar a longevidade do instrumento, o luthier cobre o instrumento com um revestimento especial, a laca ou verniz. Existe uma grande variedade de materiais que podem ser usados para esse fim. Vamos dar uma olhada em algumas das principais possibilidades de um luthier tem quando se trata do acabamento de uma guitarra.
GOMA-LACA
Violino com acabamento em goma-laca.
A goma-laca ou esmalte foi usado por centenas de anos para o acabamento de violinos e violões, dando uma sensação muito natural, orgânica ao instrumento. Um pedaço de madeira com acabamento em laca (feito pelo processo que em inglês chamam de "French Polish") fica com um brilho suave, com uma cor de mel. A madeira consegue respirar muito com esse tipo de revestimento, daí vem a sensação natural, orgânica desse tipo de acabamento. A desvantagem de goma-laca é que é muito difícil de aplicar. Você tem que ter alguma experiência para poder fazer esse tipo de acabamento. Além disso, goma-laca pode mostrar algum desgaste ao longo do tempo. A melhor parte de goma-laca é que é um produto totalmente natural. Ela vem em flocos que são diluíveis em álcool. Os flocos são uma resina endurecida extraída de insetos. Ela é raspada das árvores, recolhida, seca e então usada. Curiosamente, a goma-laca também é usada como uma camada protetora para limões (sim, limões) e também como isolante para os fios de cobre que você encontra em seu captador (como nos PAF).
NITROCELULOSE
O acabamento de nitro e a beleza do craquelado.
Nitrocelulose foi o próximo passo de desenvolvimento em acabamentos para madeira. Em sua forma bruta, a nitrocelulose é um composto altamente inflamável, utilizado para explosivos. Esta substância bruta é então dissolvida em acetona e, em seguida, é pulverizada ou escovada, endurecendo e formando um filme muito fino. A nitrocelulose também foi bastante usada no passado para acabamento de carros na industria automotiva. Quando a acetona evapora, a nitrocelulose forma uma película de proteção na madeira. O que é muito bom em relação à nitrocelulose é que ela seca rápido e com ela é muito fácil de polir o instrumento e o deixar brilhante. Além disso, quando se aplica várias camadas, elas se fundem e formam uma camada só, bem mais espessa (ainda assim, acredite, o acabamento é incrivelmente fino: uma guitarra pode ter um acabamento final menor que a espessura de um cabelo humano).
Uma propriedade única de nitrocelulose é que ele mantém esse estado de evaporação constantemente. Assim, o solvente continua a evaporar muito depois da nitrocelulose secar ao toque, até mesmo após ser polido.Isso significa que a camada de nitrocelulose continua a ficar cada vez mais fina ao passar dos anos (isso explica o "relic" que tanto amamos nos intrumentos de nitrocelulose). Isso acontece só com a nitrocelulose, uma vez que outras outras tintas e vernizes não apresentam essa característica. Isso também significa que nitrocelulose é bastante frágil. É mais propenso a riscos do que vernizes modernos, no entanto os arranhões são mais fáceis de serem consertados.
Como a goma-laca, a nitrocelulose pode mostrar algum desgaste depois de muito uso (ou devo dizer abuso?). Basta dar uma olhada nas guitarras vintage, como essa Les Paul aí em cima. Estes pontos de desgastes são um resultado direto do atrito. Uma outra característica valorizada na nitrocelulose é sua capacidade de mostrar formar essas "craquelações" maravilhosas. Se a guitarra é sujeita a variações bruscas de temperatura, a tinta vai se expandir e contrair a uma taxa diferente do que a madeira, o que acabará por resultar em rachaduras no acabamento. A nitrocelulose pode ser tingida de qualquer cor desejada, e tanto o corante muda de cor ao longo do tempo sob a influência de radiação UV quanto a própria nitrocelulose, que começa como cristalina, e acaba descolorando e ficando mais opaca. O corante vai desaparecendo e a nitrocelulose vai amarelando ao longo do tempo, criando aquela pátina encantadora que tanto amamos.
No entanto, a nitrocelulose não é um produto muito amigável com o ambiente. Além de ser inflamável em sua forma líquida, ele também é tóxico. Mas é assim para quase todo o tipo de verniz.
POLIURETANO
Observe como o poli o desgasta, muito diferente do nitro. Muito menos sexy.
O poliuretano é o verniz moderno, um composto orgânico que é, essencialmente, uma combinação de grandes monómeros à base de carbono. Poliuretano tem muitas aplicações, entre eles colas muito fortes, fibras sintéticas (Spandex) e verniz. Ao contrário da nitrocelulose, o poliuretano não vai raspar com o desgaste e o uso pesado (não passe vergonha, não tente relicar sua guitarra com acabamento em poli). Ele irá manter sempre um acabamento brilhante, embora com alguns arranhões (inevitáveis) e pontadas. Outra diferença importante é que ele é conhecido por quebrar a sua composição se sofrer um forte impacto. Se isso acontecer, seu instrumento ficará com umas manchas brancas no acabamento que não saem de jeito nenhum.
Ao ser aplicado na guitarra, o poliuretano tem que ser aplicado em uma camada mais grossa, pois não derrete, não funde e por isso não se pode aplicar várias camadas. Isso pois o endurecimento do poliuretano baseia-se numa reação química do composto com o ar ou com produtos químicos do verniz, ao passo que outros vernizes (tais como goma-laca e nitrocelulose) dependem de uma evaporação do solvente.
Uma crítica importante em relação ao verniz de poliuretano não é sobre questões ambientais, mas sobre a durabilidade do verniz. Poliuretano é tão difícil de desgastar que ele só sairá do seu instrumento com uma raspagem pesada e geralmente, quando desgasta, ele não desgasta de leve. Ele desgasta em "nacos" de acabamento, sendo um desgaste esteticamente feio.
ÓLEO DINAMARQUÊS E O "TRU-OIL"
Guitarra incrível da Crimson Guitars, com acamento em óleo polimerizado.
Esses óleos são mais difíceis de se encontrar no Brasil. O óleo dinamarquês (Danish Oil) e o Tru-oil são todos os óleos do mesmo tipo, mas feito por diferentes fabricantes.No entanto, o funcionamento é semelhante. O óleo é esfregado sobre a peça e polimeriza-se (fica rígido, solidificado, seca) com o ar, formando uma película. Uma vez que a reação química necessária para secar o óleo é uma reacção exotérmica (ou seja: faz seu próprio calor) os panos usados para limpar o óleo podem pegar fogo espontaneamente (que loucura), por isso é MUITO importante deixar esses panos sempre estendidos no chão. Se os panos não estiverem estendidos no chão, o calor gerado simplesmente não pode escapar e pode inflamar o petróleo. O óleo não é, de forma alguma, tão combustível quanto a nitrocelulose. No entanto, prevenir é melhor do que remediar.
Óleos polimerizados como esses são fáceis de aplicar, já que nenhum equipamento especial é necessário. Os resultados são impressionantes: um brilho com uma sensação natural, orgânica.
A escolha do acabamento é altamente dependente dos resultados que você está procurando.
Fonte: https://musicjungle.com.br/blog/guitarra/o-que-voce-precisa-saber-sobre-o-verniz-e-a-sua-guitarra
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