sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Postura, L.E.R e Tendinite


É muito importante saber desde o início que a preocupação com a 
postura não é apenas uma questão estética, ou a manutenção de uma 
“tradição formal” que se arrasta desde a invenção do violão. A postura é 
sobretudo uma questão de saúde. 

Ao estudar um instrumento, passamos às vezes horas a fio (algumas 
vezes sem nos darmos conta da passagem do tempo…) sentados, na 
mesma posição. Isso provoca inevitavelmente uma sobrecarga em várias 
regiões do corpo, sobretudo na coluna. Pensar na postura em que tocamos o 
instrumento poderá minimizar esta sobrecarga, e evitar sérias lesões que, 
infelizmente, só se manifestam a longo prazo. Não há apenas uma postura 
exata, dado que cada pessoa tem características físicas próprias, mas 
existem princípios que podem ser seguidos e, principalmente, erros a evitar. 

Ao tocar o violão, verifique sempre se você está sentado no centro da 
cadeira, e com a coluna ereta. É preferível também que a altura da cadeira 
seja adequada ao comprimento de suas pernas: em uma posição ideal, seus 
pés pisam firmemente no chão, e suas pernas dobram no joelho em ângulo 
reto. 

Para segurar o violão, é importante que sua perna direita esteja em 
posição mais alta que a esquerda. É nessa perna que o bojo do violão irá 
encaixar. Para conseguir este desnível entre as pernas, você pode apoiar seu 
pé direito sobre um suporte (existem suportes específicos para violão à 
venda em lojas de instrumentos), ou simplesmente cruzar a perna direita 
sobre a esquerda. 

Para aprender a tocar qualquer instrumento é necessário repetir 
centenas de vezes o mecanismo que produz o som. Isso não só é natural 
como também imprescindível para a evolução da técnica de ambas as mãos. 
No entanto, o estudo mal orientado ou excessivo pode gerar a L.E.R. – Lesão 
por Esforço Repetido. Muito frequente em datilógrafos e digitadores, a L.E.R 
só encontra espaço no meio musical quando há um descuido do professor ou do aluno. 

No estudo do violão, a L.E.R. normalmente aparece como uma
tendinite, principalmente no braço esquerdo. Ela pode ser aguda,
funcionando como um alerta, mas pode evoluir para uma tendinite crônica se os devidos cuidados não forem tomados. A tendinite é sempre consequência de um excesso. Mas esse excesso não pode ser fixado em termos absolutos.


Cada pessoa tem seu limite natural, e além disso todo organismo está
sempre pronto para ampliar este limite com treinamento adequado. É muito
fácil entender que um pequeno peso pode ser excessivo para uma pessoa
sedentária, mas ao mesmo tempo não representa nenhum desafio para uma
pessoa em boa forma física. O mesmo acontece no instrumento: para um
iniciante, forçar a velocidade em um exercício pode ser perigoso. Mas a
mesma pessoa, meses depois, poderá aumentar a velocidade sem o menor
perigo. É por isso que é imprescindível o acompanhamento do professor: só
ele poderá avaliar a sua “forma física” no instrumento, e recomendar os
exercícios corretos.


Mas é importante salientar ainda outros aspectos:

1) Estabeleça uma pequena série de exercícios de aquecimento para
as mãos, semelhante aos alongamentos praticados pelos atletas. Tente
manter todo o corpo relaxado ao tocar, em especial as mãos e os ombros.

2) Nunca estude mais de uma hora sem pausas. A cada hora de
estudo, faça uma pausa de 10 ou 15 minutos, levante e ande um pouco, e
repita os exercícios de aquecimento.

3) Faça um planejamento do seu estudo. Não há nenhum problema
em estudar 15 horas por dia. Grandes instrumentistas passam anos de suas
vidas mantendo essa média diária de estudo. Mas esse nível deve ser
alcançado progressivamente. Comece com uma hora por dia e aumente seu
tempo gradualmente, sempre observando a reação do seu corpo.

4) Evite grandes desníveis. Se você está acostumado a estudar uma 
hora por dia, não tente estudar 10 horas seguidas no fim de semana! 

5) Se você interrompeu um processo de estudo diário, retome a carga 
progressivamente. Depois de alguns dias sem praticar, não espere retornar 
ao mesmo nível técnico imediatamente: reinicie devagar, e espere seu 
organismo se readaptar aos poucos. 

6) Dores leves nas pontas dos dedos da mão esquerda são naturais e 
esperadas. Elas desaparecem em pouco tempo, à medida que os dedos vão 
adquirindo resistência. Até certo ponto, pequenas dores musculares na mão 
também são normais, principalmente ao praticar acordes com pestana. Elas 
devem desaparecer assim que o exercício terminar e a carga for removida. 

Perigosas são dores ao longo do braço. Se você começar a sentir dor 
constante ao tocar, pare imediatamente, e permita um ou dois dias inteiros de descanso absoluto. Se a dor voltar assim que você voltar a tocar, ou se a dor persistir mesmo sem tocar o instrumento, procure um médico: só ele poderá avaliar suas condições físicas, e instaurar a terapia adequada. JAMAIS PRATIQUE A AUTO-MEDICAÇÃO. Isso pode ser perigoso para a sua 
saúde, e pode ainda encobrir uma lesão mais grave, tornando-a irreversível !!

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