A estética do timbre: Vou listar alguns pontos que
julgo importante no timbre convencional.
Peso: não
confundir peso com quantidade de distorção, são características diferentes.
Peso se refere ao espaço ocupado pelo instrumento dentro da música e seu leque
dinâmico. Está relacionado com a riqueza das frequências sonoras que emite e a
quantidade de informação que exala. É força e certeza, corpo, e por isso o peso
também está ligado a execução. Um timbre com peso é aquele que facilmente
cresce e que tem suas frequências bem definidas. Uma estrutura grave nítida,
médios sem exageiros e agudos brilhantes sem serem estridentes demais, com uma
boa quantidade de harmônicos.
Definição: O
conceito é simples, um timbre bem definido é aquele que possibilita escutar a
guitarra e seus detalhes claramente. Para isso deve-se procurar não competir
com as frequências de atuação dos outros instrumentos. Uma guitarra com grave
demais confunde o baixo, com médio demais consome o arranjo da banda e com
agudo demais sobrecarrega a música entrando em conflito com os harmônicos dos
pratos e caixa. Por sua vez a falta de grave reduz a agressividade da guitarra,
os poucos médios levam a guitarra pra trás da banda e a ausência de agudos
abafa e embola a execução. Para dosar a quantidade certa de equalização
deve-se levar em conta a interação com os demais instrumentos e usá-los no
complemento do timbre.
Distorção: essa
funciona como uma compressão ao sinal da guitarra, então com excesso de
distorção temos a perda da dinâmica e a perda da definição articulatória. De
forma geral tentamos compensar falta de sustain com exageiros na distorção pra
facilitar a tocabilidade e acabamos com o timbre. Para afinações graves é comum
a perda da sensação de saturação que pode ser compensada com a abertura dos
médios agudos sem aumento do drive. Em gravação recomendo sempre usar a
guitarra com menos distorção pois a compressão na mixagem tem a tendência de
adicionar saturação podendo comprometer o resultado final.
Ambiência: Pode
ser conseguida de inúmeras formas, seja com efeitos (reverb, delay) ou com o
posicionamento do microfone (gravações e ao vivo com microfonação). É
aconselhável ser compatível com a quantidade de ambiência dos demais
instrumentos para evitar contrastes em excesso. Um exemplo: imagine uma mixagem
extremamente seca seguida de um solo carregado de reverb. Como nosso ouvido é
relativo e se adapta as condições impostas, ele sentirá demais a ambiência do
solo por ter se adequado a referência anterior. Mesmo que, ao escutar o solo
sozinho ele não pareça estar carregado, quando inserido no contexto vai gerar
desconforto. Microfonações distantes também possibilitam a entrada de ruídos
externos dificultando a boa mixagem da música, seja em estúdio ou ao vivo.
Sustain: É
a quantidade de harmônicos geradas pelo timbre, é a duração da nota após a
execução. Pouco sustain quer dizer que o som some rapidamente após a
articulação da nota, dificultando a execução. Vários fatores influenciam no
sustain como:
- Quantidade de distorção – Com o aumento da distorção temos o aumento do sustain, mas deve-se evitar usar isso como fonte única de correção pois o drive em excesso reduz a definição e suja demais o som.
- Tipo de efeitos (reverb,
delay, compressor) – O reverb e o delay mantém a nota soando após sua
execução promovendo a sensação de sustain. O compressor aproxima a
diferença de pico (volume) entre o ataque, o sustain e o decay da nota,
também criando a sensação de maior duração do som.
- O tipo de frequência sonora
do timbre – Timbres com pouco corpo grave e excesso em médios agudos e
agudos tem a tendência de preencher de forma carente o ambiente, sendo estridentes
e gerando muita microfonia. Esse som é áspero e cristalino demais
nas imperfeições de execução prejudicando demais a tocabilidade. Por sua
vez o excesso de grave cria um sustain indesejável decorrente da
ressonância com o ambiente e com os outros instrumentos.
- Acústica do local – esse sem
dúvida é um dos fatores mais importantes para a qualidade do sustain.
Ambientes com projetos acústicos deficientes geram muitas ondas
estacionárias que anulam ou reforçam frequências dos instrumentos, mudando
completamente a qualidade tonal. Ambientes abertos facilitam a fuga do som
promovendo drasticamente a redução do sustain, que deverá ser compensado
artificialmente através de efeitos.
- Qualidade do equipamento –
Um equipamento bem regulado, com componentes de qualidade bem ajustados
evitam a perda de sustain: Madeiras mais densas, braço e trastes
regulados, parte elétrica de qualidade com componentes novos, cabos
blindados com metais nobres, amplificadores de qualidade e eletricidade
bem fornecida são alguns dos fatores que contribuem para um resultado
satisfatório. Lembre “que a corda arrebenta no ponto mais fraco”,
então qualquer componente carente compromete todo o resultado.
- Volume – Com o aumento do
volume há um aumento do sustain (feedback), mas volume em excesso traz
mais problemas que solução, como microfonias e hum – ressonâncias graves.
Estética: afinal
a soma de todos esses fatores deve representar o tipo de idealização do
guitarrista. O timbre final é aquele que, além de bem definido e construído, de
fácil execução, faz jus ao esperado.
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