sexta-feira, 10 de agosto de 2018

A origem das ESCALAS MUSICAIS - PARTE 1







A história

A partir da descoberta de artefatos musicais da antiguidade, supõe-se que a primeira escala desenvolvida tenha sido a escala de cinco sons ou pentônica, o que é confirmado pelo estudo de sociedades antigas encontradas contemporaneamente. Observando-se, no entanto, que a palavra "pentatônica" é, na verdade, substituída no vocabulário musical, pela palavra "pentafônica", uma vez que a primeira (pentatônica), remete à ideia de cinco notas tônicas em uma mesma escala ou tonalidade sonora musical, o que não é a verdade; e a segunda (pentafônica) refere-se, mais claramente, à escala ou tonalidade formada por cinco sons ou notas diferentes. No entanto, o termo "pentatônica" ainda é muito mais utilizado popularmente do que o termo "pentafônica".

As escalas de 7 notas foram prováveis desenvolvimentos da escala pentatônica e tem-se o registro de sua utilização pelos gregos (vou tratar especificamente delas na parte 2 desse post em outro artigo), apesar de que qualquer tentativa de resgate da sonoridade dessas escalas tratar-se-á de exercício puramente especulativo.

A música grega morre junto com o Império Romano, deixando apenas uma nota de rodapé do que seria todo o sistema musical utilizado à época. O fato é que, com o surgimento do cristianismo, houve uma adoção dos ritos judaicos, e essa é a origem do que seria a música ocidental posterior. Na Idade Média, a elaboração de um sistema de escalas (vem do italiano e significa escada) levava em conta, não somente a nota fundamental do modo (fundamentalis), como também a chamada corda de recitação, que era a nota ao redor da qual a melodia se desenvolvia, sendo essa nota a mais utilizada na música. Essas escalas foram chamadas de modos eclesiásticos e compunham-se de quatro: protus, deuterus, tritus e tetrardus.

Esse sistema, chamado modal, não é um sistema totalmente definido; como há variação da corda de recitação entre duas músicas, elas podem estar dentro de um mesmo modo, mas se desenvolvem em direções diferentes, sendo reclassificadas aí, a depender do âmbito em que elas se desenvolveram, como estando no modo plagal ou autêntico. Além disso, a música poderia muito bem gravitar entre os modos, o que dificultaria a classificação exata sobre o modo em que ela está (ou em que modo começou, ou em que modo terminou).

Posteriormente, dois modos receberam a preferência dos compositores (o modo chamado jônico, ou tritus plagal, e o chamado eólio, ou protus plagal), sendo estes as origens das escalas diatônicas maior e menor: iniciava-se o período tonal da música.

A partir do temperamento da música, ocorrido no século XVIII, onde procurava-se dar os mesmos valores proporcionais aos intervalos da escala diatônica, surge uma nova escala, em que todas as notas têm o mesmo valor dentro desta: A escala cromática.

Com o segundo período do romantismo musical (romantismo nacionalista), fez-se necessária a incorporação de escalas exóticas nas quais as músicas de muitos países se baseavam. Às escalas ciganas, já conhecidas séculos antes, juntam-se escalas mozárabes, russas, eslavas, etc...  

O compositor e pianista Claude Debussy incorpora a escala de tons inteiros, também conhecida como escala hexafônica (simétrica), onde se divide a oitava em seis intervalos iguais de um tom, à música. Posteriormente, novas escalas surgiram, com a chamada música micro-tonal, além de incorporações de escalas antigas, como a indiana, que divide a oitava em 22 sons, e a escala nordestina brasileira, mistura dos modos lídio e mixolídio. Sendo um modo nada mais que derivado do IV grau da escala menor melódica, precisamente mixolídio 4#.

Tipos mais comuns de Escalas
Escalas modernas, que na cultura ocidental são as mais utilizadas:
Escala cromática
Escala Maior
Escala menor
Escala pentatônica, sendo que a mesma teve inserções e variações, sendo as mais comuns:
Maior, menor, pentablues (adicionando a 4#), m6, (M)7, m7/5b, m7M,  M5#, dim°, etc...

No caso das Escalas menores, as mesmas se dividem basicamente em 3 grupos :
Escala Menor Natural ou Primitiva
Escala Menor Harmônica
Escala Menor Melódica

Modos Gregos
Escalas gregas ou modos gregos, também chamados modos litúrgicos ou modos eclesiásticos, como Dórico, Frígio e Lídio.
No tocante aos modos derivados, temos as seguintes sonoridades (21 no total):

Derivados da Escala diatônica maior:
I Jônio
II Dórico 
III Frígio
IV Lídio
V Mixolídio
VI Eólio
VII Lócrio

Derivados da Escala menor harmônica:
I Eólio 7M 
II Lócrio 6
IIIb Jônio 5# 
IV Dórico 4# 
V Mixo 9b13, 
VIb Lidio 9#  
VII Diminuta/ Alterada 6

Derivados da Escala menor melódica:
I Dórico 7M 
II Frígio 6 
IIIb Lídio 5# 
IV Mixolídio 4#
V Mixo 13b 
VI Lócrio 9  
VII Alterada

Escalas exóticas
Formas escalares que não sejam os modos maior, menor ou eclesiásticos são conhecidos como escalas exóticas, artificiais ou sintéticas. Algumas são derivadas da música folclórica, algumas vêm de outras culturas que não a Ocidental, e algumas são construídas por compositores para gerar relações intervalares especiais. Essas formas escalares podem ser construídas a partir de qualquer nota. Entre as escalas mais comuns nessas categorias estão as seguintes:

Cigana Espanhola (7b) T 2b 3M 4 5 6b 7b
Cigana Espanhola (7M) T 2b 3M 4 5 6b 7M
Pelog Javanês T 2b 3b 4 6b
Balinesa T 2b 3b 5 6b
Scriabin T 2b 3M 5 6
Hiro Josh (Japão) T 2 3b 5 6b
Iwato (Japão) T 2b 4 5b 7b
Kumoi Josh (Japão) T 2b 4 5 6b
Kokin Josh (Japão) T 2b 4 5 7b
havaiano T 2 3b 5 6
Prometheus T 2 3M 4 # 7b
P'Yangio (Coreia) T 2 4 5 6
Enigmática T 2b  3M 4 # 5 # 6 # 7M
Napolitana T 2b 3b 4 5 6b 7M
Napolitana (6M) T 2b 3b 4 5 6M 7M
Cigana Húngara T 2 3b 4 # 5 6b 7b
Oriental T 2b 3M 4 5b 6b 7b
Tom inteiros T 2 3M 4 # 5 # 7b
Tom inteiros (7M) T 2 3M 4 # 5 # 7b (7M)
Lídio menor T 2 3b 4 # 5 6b 7b
Árabe (major locrian) T 2 3M 4 5b 6b 7b
Escala Árabe  T 2b 3M 4 5 6b 7b
Persa T2b 3M 4 5b 6b 7M
Bizantina  liturgicaT 2b 3M 4 5 6b 7M
Húngara T 2 # 3M 4 # 5 6 7b
Húngara menor 1 2 3b # 4 5 b6 7
Romena T 2 3b 4 # 5 6 7b
Hindustão T 2 3M 4 5 6b 7b
Simétrica T 2b 3b 3M 4 # 5 6 7b
Persa T 2b 3M 4 5b 6b 7b
Tunisiana T 2 3b 4# 5 6 7b
Síria (pentatônica)  T 2b 3M 4 5#
Hindu T 2 3M 4 5# 7b
Etíope  T 2 3M 4 5 5# 7M
Enigmática T 2b 3M 4# 5# 6# 7M
Escala Egípcia T 2 4 5 7b
Chinesa antiga (ancient chinese) T 2 3M 4# 5 6
Chinesa T 3M 4# 5 7M
Argelina T 2 3b 4 4# 5 6b 7M


Escalas Simétricas
São aquelas que possuem exatamente a mesma seqüência de intervalos quando tocadas de forma ascendente e descendente. Em outras palavras, utilizamos a mesma lógica (estrutura intervalar) para executar a escala nos dois sentidos: de baixo para cima e de cima para baixo. Entre as mais comuns temos

Cromática (semitons) T 1#/2b 2 2#/3b 3M 4 4#/5b 5 5#/6b 6 7b 7M
Tons Inteiros (tons) T 2 3M 4# 5# 7b
Diminuta (tom, semitom) T 2 3b 4 5b 6b 7bb 7M
Dominante Diminuta (semitom, tom) T 2b 2# 3M 4# 5 6 7b
Arpejo Diminuto (um tom e meio) T 3b 5b 7bb
Aumentada (um tom e meio, semitom) T 2# 3M 5 6b 7M


Modos de Transposição Limitada 

Os modos de transposição limitada são modos de música que possuem certa simetria e propriedades de repetição em um número limitado de transposições . Esses modos são em número de 7 e retornam à sua forma inicial após 2, 3, 4 ou 6 transposições.

Eles foram codificados pela primeira vez pelo compositor Olivier Messiaen em seu livro "Technique de mon langue musical". Ele os estudou ao mesmo tempo em seus aspectos harmônicos e melódicos:

M1 - T  2  3M   4#  5# 7b  (intervalos de tom, escala hexafônica - tons inteiros)

O primeiro modo de Messiaen, também chamado de escala por tons , consiste em seis segundos principais. É definido pelos intervalos: tom, tom, tom, tom, tom, tom . Possui duas transposições e um modo. Este modo não é uma invenção de Messiaen, mas já existia na literatura musical: Mikhaïl Glinka ( Rouslan e Ludmila ), Franz Liszt, Rimsky-Korsakov ( Le coq d'or ), e especialmente Vladimir Rebikov , Claude Debussy e Béla Bartók (que considerado um modo intermediário entre o diatonismo e o cromatismo) usou-o extensivamente antes de Messiaen.


M2 - T 2b 2# 3M 4# 5 6 7b (escala Dominante Diminuta)

O segundo modo ou escala octotônica é dividido em quatro grupos de três notas cada. Ele tem três transposições, como o acorde diminuto com sétima para que você possa encadear quatro sétimas menores ou nonas dominantes a uma distância das terças menores. É também denominado "modo meio-diminuto", "tom semitom" ou "modo Bertha".


M3 - T 2 3b 3M 4# 5 6b 7b 7M  

O terceiro modo (escala não atônica) é dividido em três grupos de quatro notas cada. Possui quatro transposições, como o acorde de quinta aumentada . Você pode encadear três sétimas ou nonas maiores com uma distância das terças maiores. Note-se que a escala de tons ( 1 r modo) está incluído lá.


O quarto , quinto , sexto e sétimo modos têm seis transposições cada, como a "salamandra".

M4T 2b 2 4 4# 5 6b 7M

M5T 2b 4 4# 5 7M

M6 T 2 3M 4 4# 5# 6# 7M

M7 T 2b 2 3b 4 4# 5 6b 6 7M


Na música , "salamandra" é outro nome para o alcance da aumentada (não deve ser confundido com o diminuído direto ). O termo "trítono" vem do fato de que este intervalo tem exatamente três tons (enquanto a quinta diminuta tem dois tons e dois semitons diatônicos ). A salamandra tem a particularidade de ser um intervalo com movimento forçado (esse intervalo precisa ser resolvido pela tensão que gera),

Intervalos de modo

Enquanto a escala maior tem como padrão "TT 1 / 2T TTT 1 / 2T", isto é, em número de semitons "2 2 1 2 2 2 1" (a soma dos quais cobre os 12 semitons da oitava), os modos com transposição limitada são baseadas em:

Moda

Número de semitons

"primeiro modo"

2 2 2 2 2 2

"segundo modo"

1 2 1 2 1 2 1 2

"terceiro modo"

2 1 1 2 1 1 2 1 1

"quarto modo"

1 1 3 1 1 1 3 1

"quinto modo"

1 4 1 1 4 1

"sexto modo"

2 2 1 1 2 2 1 1

"sétimo modo"

1 1 1 2 1 1 1 1 2 1



Nas nomeações dos intervalos citados ao decorrer do artigo, levar em consideração a enarmonia (mesmo som ou intervalo com mais de um nome), e os intervalos de forma simples e composta. 



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