sábado, 14 de abril de 2018

Um papo sobre: MÚSICA DE QUALIDADE


Você definitivamente já ouviu, e provavelmente já falou, que alguma música é “muito ruim”, e aí alguém certamente chegou e discordou. Será que qualidade é uma coisa subjetiva?
Minha resposta para esta pergunta é um sonoro não; qualidade é com certeza algo que existe mesmo na arte. A questão é: que critérios definem realmente o que é uma música de qualidade? Esta é a parte difícil. Como lidar com isto sabendo que, independente do seu critério, deve haver algo na sua playlist que seria definido como ruim?
Preciso esclarecer aqui certas coisas: o que direi aqui é puramente baseado em minha opinião. E mesmo assim, não pretendo chegar em uma conclusão, apenas apresentarei uma série de critérios que julgo razoáveis; é um artigo para reflexão antes de ser um artigo útil. Não quero mudar o gosto musical de ninguém… As vezes gostamos de músicas que nós mesmos consideramos como "ruim"

INOVAÇÃO
Este critério aqui depende do contexto em qual a música foi criada. Funciona deste jeito: a música soa como todas as outras músicas do seu gênero? Você tem a impressão de já ter ouvido isso mil vezes antes? Se sim, você pode estar olhando para uma música ruim. Ou talvez não ruim, mas provavelmente preguiçosa.
Isto acontece em todos ou quase todos os estilos musicais (no jeito do “Maria-vai-com-as-outras”), mas é mais notável em estilos muito criticados, como o funk carioca e o pós-grunge (gênero de Nickelback, The Calling, etc). Independente do estilo, é comum vermos músicas cujas características são inevitavelmente trazidas intactas de outras músicas do meio. Uma exceção é quando o atributo copiado vem de outro estilo musical; isto, em si, é geralmente inovador.
O negócio é mais feio quando se compara trabalhos do próprio artista. Muito embora haja, obviamente, uma licença e praticamente uma obrigação ao artista que suas músicas venham com sua marca registrada, certos artistas abusam um pouco, especialmente dentro de um mesmo álbum, onde coesão musical entre cada música é algo desejado. Geralmente isto se torna critério de crítica ao artista, e não às suas músicas. É por isso que, por exemplo, considero o álbum Defying the Gods, da banda Rise To Fall, um álbum fraco apesar de muitos gostarem maioria das músicas. Confira Whispers of Hope e Reject The Mould (músicas que vem literalmente uma atrás da outra na sequência do álbum) para entender o que eu quero dizer.
Por outro lado, há artistas e grupos que, só por fazerem o tipo de música que fazem, já escapam de soar similares a outros músicos. É o caso, por exemplo do U2, do Red Hot Chili Peppers e do System of a Down.
Estrutura da música, arranjo, compasso e mesmo atributos simples como tempo e tom de base são algumas características que poderiam mudar de música para música. Músicas excepcionalmente únicas podem ocorrer quando se “brinca” com estes elementos; um dos meus exemplos é Revive My Wounds, da banda Sybreed, que cria algo bem diferente, apenas se utilizando de melodias nada usuais.

VARIEDADE
Quando uma música é repetitiva, realmente é um pouco difícil de se apreciar.
Aqui temos outro motivo pelo qual o funk carioca é tão detestado. O hip-hop também tende a sofrer muito neste critério, e música eletrônica geral, mais ainda. Nesses estilos, é típico que a variedade dentro da música seja escassa, com uma estrutura que se repete com pouquíssima variação, e com mudança significativa apenas nas letras (quando há).
É importante notar que a relação entre variedade e qualidade não é exatamente linear. O estabelecimento bem-sucedido do sistema “verso-refrão-verso-refrão-bridge-refrão” indica que alguma repetitividade pode ser beneficial à música. Por outro lado, pela minha experiência, uma música com estrutura mais variada tende a ter um potencial maior.
O arranjo, a estrutura, as melodias e o ritmo ao longo da música podem determinar o grau de variedade de uma música; quando muitos destes aspectos são estagnados pela duração da música, temos uma música pouco variada. É um desafio maior quando as músicas são longas.
É meio difícil encontrar um exemplo bom de uma música variada, já que este critério é mais eficiente em se encontrar músicas ruins que músicas boas. Mas uma música que acho apropriada é a música Sons of Winter and Stars, da banda Wintersun. São 13 minutos de música, e ainda sim a variedade aqui é bem considerável; o arranjo, o ritmo, o tempo e as melodias variam muito ao longo da música, mas não mais do que o necessário. Em fato, a música é tão bem planejada que certas partes são compridas o suficiente para gerar tensão, e curtas o suficiente para evitar estagnação.

“AGRADABILIDADE”
Este critério é, mais precisamente, direcionado à probabilidade de atrair ouvintes, o que em si pode ou não ser indicativo da qualidade musical da obra.Aqui, a música pop triunfa. Independentemente do que você possa achar da música popular ou de como as músicas mais famosas possam tropeçar nos outros critérios, este é o seu reino.
A ideia é bem simples: um foco em melodias “grudentas”, que sejam agradáveis ao ouvinte. Como já mencionado antes, esta é a especialidade da música pop. O uso de melodias agradáveis como pedra angular em uma música também é muito empregado no rock (assim como em algumas vertentes do metal, que até recentemente só queria fugir de tudo que soasse “agradável”), em alguns subgêneros da música eletrônica, em trilhas sonoras (nas décadas de 80 e 90, uma melodia agradável era essencial para trilhas sonoras de games, graças às limitações tecnológicas dos chips de som da época) e, logicamente, em jingles.
Uma música agradável não precisa ser genérica. Temos Reaching Home, da banda holandesa Textures, que apresenta muita síncope (deslocamento inesperado do ritmo) e melodias menos usuais.

CONTEÚDO (letras)
Agora, este é provavelmente o critério mais polêmico. Alguns acreditam na letra como o aspecto mais importante de uma música, outros dão tão pouca atenção às mesmas que preferem ouvir música instrumental. A maioria dos ouvintes de metal, eu incluso, não prestam muita atenção na letra (quando entendemo-la, kkkk).
Além disto, as próprias qualidades de uma boa letra podem ser consideradas subjetivas. Tem gente que gosta ouvir a Lady Gaga falando sobre ser rica, outros gostam de ouvir um Cantor Gospel louvando a Deus ( ou aquelas músicas de auto-ajuda ) e outros gostam de ouvir Burzum fazendo exatamente o oposto. Portanto, para se estabelecer objetivamente um critério de qualidade, é mais interessante excluir o tema da avaliação. A partir disto, resta apenas padrões de poesia para determinar a qualidade das letras. Pontos bônus se há relação da letra com a música que segue. Obviamente não é um fator existente em uma música instrumental.

ATENÇÃO
Não, eu não estou chamando sua atenção, é só outro critério. O critério da atenção é o mais simples de entender. Atenção aqui está no sentido de atenção aos detalhes; o quanto foi feito para que a música tenha as características desejadas? Foi uma obra preguiçosa ou meticulosamente trabalhada?
A música eletrônica tem alto potencial pra cumprir esta função, já que seus atributos são mais fáceis de se manipular. Muitos consideram que, em termos de qualidade, a música atual não chega aos pés da música clássica pois, assim como nas demais artes clássicas, a atenção aos detalhes era tudo. Mesmo assim, qualquer estilo musical pode beneficiar deste atributo, é só o autor querer. Ainda sim é raro músicas com atenção a detalhes em gêneros como o punk rock e o (adivinha) funk carioca. (parece que eu estou implicando com o funk carioca mas eu só estou realmente sendo honesto!)

Nenhum comentário:

Postar um comentário