Você já pratica a inúmeras horas, você conhece as
posições da escala e os dedilhados como a palma de sua mão, você já consegue a
tocar mais rápido do que todos os seus amigos. No entanto, todos os solos que
você improvisa (ou escrito) soam meio sem vida, sem se parecer como “música de
verdade”. Por quê? Anos atrás, quando eu era um novato, esse problema foi me
deixando louco. Como que pode alguns músicos tocarem apenas três notas e
conseguirem fazer soar tão musicalmente bem, enquanto que outros simplesmente
não conseguem? Sem se importar tanto assim com a quantidade de prática? Eu
descobri que há muitas coisas possíveis que podem dar errado durante a
tentativa de tocar melodicamente. Eu compilei uma lista de razões mais comuns
que o impedem de ver as suas improvisações deslancharem musicalmente falando,
com algumas dicas adicionais de como superar tais dificuldades!
Alguns dos pontos que eu irei levantar aqui são de
natureza puramente técnica, enquanto que outros pegam o lado puramente
emocional das coisas. Um bom solo (como toda a música) é uma expressão de
emoções por parte do tocador. A música é uma síntese de técnica e arte, e para
ser um bom músico você precisa ter algo para expressar (emoção) e dos meios
para expressar (técnica). Vamos começar a partir das questões técnicas e depois
gradualmente iremos ver a parte emocional.
Vou listas 8
Motivos do porque sua improvisação de guitarra não soa como música!
1. Exagero
A primeira razão é provavelmente a mais comum entre
os guitarristas (e bateristas também). Tocar muitas notas é uma característica
que define “o guitarrista detestável” que muitos músicos não gostam, sem
mencionar a insatisfação do público.
É importante compreender que “exagerar” tem um
significado relativo. Algumas músicas podem exigir um solo lento, enquanto
outras exigem um solo com um monte de notas e execuções rápidas. Nem todos os
rápidos guitarristas são automaticamente culpados por exagerar. Um solo ao
estilo Shred requer muitas notas, e se a música foi composta de
modo que permita a execução de um solo corretamente, então mesmo o solo mais
rápido do mundo não pode ser considerado como exagero. É uma questão de
contexto e gosto.
A solução aqui é ridiculamente simples: basta tocar
menos notas! Treine-se para improvisar sobre uma backing track usando apenas 1-2 notas por compasso. Se a backing track estiver em 4/4, significa
uma nota a cada 2-4 batidas. Parece fácil, mas se você tentar isso na prática,
você vai descobrir que você tem que resistir à vontade de acelerar. Não
desista!
1 – Ao exagerar
com notas supérfluas isso faz com que obscurece uma boa linha melódica. Na
verdade, algumas pessoas tocam notas demais ao tentar esconder a falta de
melodia em seus solos!
2 – Não é muito importante o quão rápido você consegue tocar, mas sim o quanto é a diferença entre a nota mais lenta e a nota mais rápida que você consegue tocar. Se você conseguir dar bastante contraste entre as passagens mais lentas e as mais rápidas, as passagens rápidas parecerão mais rápidas.
3 – Geralmente é uma boa ideia em deixar os seus licks mais rápidos para o final de seu solo / improviso. Se você tocá-los cedo demais corre-se o risco de ficar sem nada para entreter depois.
2 – Não é muito importante o quão rápido você consegue tocar, mas sim o quanto é a diferença entre a nota mais lenta e a nota mais rápida que você consegue tocar. Se você conseguir dar bastante contraste entre as passagens mais lentas e as mais rápidas, as passagens rápidas parecerão mais rápidas.
3 – Geralmente é uma boa ideia em deixar os seus licks mais rápidos para o final de seu solo / improviso. Se você tocá-los cedo demais corre-se o risco de ficar sem nada para entreter depois.
2. Fraseado
Após adquirir um pé firme no freio e não exagerar,
você vai começar a notar que as notas mais lentas podem não soar tão bem por si
só. Mas se começar um desejo bem grande em começar a tocar bem rápido para
esconder isso, então resista a este desejo. O problema não está no fato de que
você está tocando lentamente: o culpado está na sua falta de familiaridade e de
treino com notas longas. Sim, você leu corretamente. Muitos de nós gastam muito
tempo de prática para poder tocar mais rápido (um esforço que aplaudo), mas
quantos de nós realmente praticam UMA boa nota longa?
Se você praticar com apenas uma nota ao seu dispor,
em breve você vai descobrir que as regras do jogo são diferentes. Não se trata
apenas do que você toca, mas também a forma de como você toca (ou seja, seu
fraseado). Os dois problemas mais comuns que os guitarristas encontram nessa
questão são:
1 – Bends fora
de sintonia
2 – Vibrato ruim (muito rápido, muito estreito, sem ser regular).
2 – Vibrato ruim (muito rápido, muito estreito, sem ser regular).
Se você praticar aquilo que eu sugerir acima, ou
seja, apenas improvisando com poucas notas longas, você irá começar a notar
estas questões. Pois, primeiro você precisa notar os defeitos em sua
tocabilidade, para depois corrigi-los. Eu não vou expandir muito sobre esse
assunto de bends e vibrato, já que é um tema que
requer mais espaço e nós já escrevemos algumas coisas sobre esses conteúdos. O
que vou dizer aqui é: reserve algum tempo em sua rotina de prática diária para
a prática de notas exclusivamente individuais com bends e vibrato. Um bom vibrato
é a assinatura de qualquer bom guitarrista.
3. Notas
aleatórias sem visar aos acordes
É claro que, o como que você toca é muito
importante, mas o que você toca ainda mantém uma certa importância (notas
aleatórias não soam a melodia favorita da maioria). Mesmo se estiver tocando na
tônica certa com fraseado bom, às vezes sua improvisação não “cola” em tal
progressão de acordes em uma determinada música. Isso acontece porque a
qualquer momento na música algumas notas são mais “certas” do que outras. A história
curta é: as notas “certas” são aquelas que estão incluídas no acorde que está
sendo tocado naquele momento (os chamados “tons de acordes”). Se esta última
afirmação não está clara para você, eu vou esclarecer isso em um minuto.
Enquanto isso, deixe-me declarar um fato importante: em geral, você não se
encontra limitado a tocar apenas notas “certas”. Na verdade, você pode tocar,
literalmente, tudo o que você quiser, desde que você termine em uma nota
“certa” (esta última afirmação tem um monte de exceções, mas é um bom ponto de
partida). Este é o significado da frase frequentemente citada : “Não
existem notas erradas, somente resoluções erradas” frase atribuída por
vários músicos do Jazz.
Agora, vamos esclarecer esse conceito: acordes são
compostos por pelo menos três notas. Vou dar uma dica para quem é principiante.
Por exemplo, o acorde C maior é feito pelas notas: C, E, G. Então, se a backing track estiver tocando um acorde
de C maior em um determinado momento, eu tenho que terminar o meu fraseado com
alguma nota deste acorde, seja C ou E ou G. Se o acorde mudar, minhas
notas “alvo” também mudam. No início isso parece irremediavelmente difícil de
gerir já que:
1 – Exige
conhecer o acorde que estiver sendo tocado no exato momento;
2 – Lembrar as notas deste acorde;
3 – Encontrá-las no braço da guitarra;
4 – Tocar tudo ao mesmo tempo!
2 – Lembrar as notas deste acorde;
3 – Encontrá-las no braço da guitarra;
4 – Tocar tudo ao mesmo tempo!
O lado bom disto tudo é que com um bom treino bem
estruturado isso tudo fica fácil. Todos os bons guitarristas praticam treinos
visando essas notas de acordes até se tornar algo natural. A chave para
entender isso é usar algum guia visual, como por exemplo no diagrama a seguir
que mostra as notas dos acordes de Am e C na escala pentatônica em Am.
Caso esteja em um nível mais
avançado aconselharia após a analise da função e identificar a escala a ser
usada dentro de um centro tonal, separe as informações, por exemplo :
Cm7 – Dórico, pertence ao Centro
Tonal de Bb maior
Notas de Acorde ( tétrades ) C
Eb G Bb ( T, 3b, 5, 7b )
Notas de Tensão ( 2/9, 4/11.
6/13 )
Nota evitada ( passagem ) : 6
( devido o atrito com a 7b )
Tente frasear e fazendo
repousos na seguinte ordem : T, 3b, 5, 7, 9, 11, 13 (evitada)
É claro que esse tema exigiria uma explicação mais
detalhada, mas por enquanto vamos ficar nessa abordagem mais curta para não
desvirtuar o artigo.
4. Deixar de tocar
com outros músicos
Como eu costumo dizer, a música é um esporte
coletivo. Certamente podemos ter bons momentos nos divertindo sozinhos, mas não
é nem perto da diversão que você pode ter ao tocar com outras pessoas (ou tocar
para outras pessoas, conforme veremos a seguir). Com isto não quero lhe dizer
que é preciso tocar somente com outros guitarristas, mas sim que você deve
experimentar em tocar também com baixistas, bateristas, cantores, tecladistas,
na verdade com qualquer tipo de músico que você encontrar.
Eu sei que muitos de vocês estão pensando agora:
“Mas eu ainda não sou bom o suficiente para tocar com outras pessoas / ter uma
banda”. Bem, deixe-me ser franco aqui: se você não sair da casca e tocar com
outras pessoas, corre-se o risco de nunca se tornar bom o suficiente! Não tem
como aprender a nadar sem nunca ter entrado na água. Se quiser ser um bom
jogador de futebol terá que ter um senso de coletividade. Você pode não ser o
bom suficiente para jogar uma Copa do Mundo, mas certamente encontrará pessoas
dispostas a jogar contigo. O mesmo vale para a música.
A coisa muda muito quando se está tocando com
outros músicos, a dinâmica de sua tocabilidade muda completamente. Você vai ter
que se adaptar ao que as outras pessoas estão fazendo, e interagir com a música
para dar a sua própria interpretação à música tocada. Por isso também é legal
ter o acompanhamento de algum tutor / professor ou de alguém melhor do que você
para tocar regulamente com você.
5. Deixar de ouvir
no que os outros estão tocando
Como dito anteriormente, tocar com outros exige
atenção sua no que os outros estão tocando, nessas horas tem que ter os ouvidos
literalmente abertos para saber o que e como eles estão tocando. Mas como você
pode dizer que realmente está prestando atenção no que outro músico está
tocando (ou na backing track)?
1. Quando você
ficar a maior parte do tempo olhando para o braço da guitarra sem prestar muita
atenção nos outros, então você não está prestando atenção o suficiente. Bons
músicos olham para cada um dos integrantes o tempo todo.
2. Se você começar a improvisar assim que a backing track / banda começar, você não está ouvindo. Bons músicos deixam alguns compassos passar antes de improvisar para absorver o feeling, o andamento e as mudanças de acordes durante a canção.
3. Se você estiver apenas à espera de “sua vez para começar a tocar”, você não está ouvindo.
2. Se você começar a improvisar assim que a backing track / banda começar, você não está ouvindo. Bons músicos deixam alguns compassos passar antes de improvisar para absorver o feeling, o andamento e as mudanças de acordes durante a canção.
3. Se você estiver apenas à espera de “sua vez para começar a tocar”, você não está ouvindo.
Uma boa maneira de aprender a ouvir é através de
uma técnica chamada de “to trade fours”. Você vai precisar de um guitarrista
para fazer isso. Ao tocar juntos, por 4 compassos, você estará tocando a base e
ele estará solando, e depois nos próximos 4 compassos seguintes vocês trocarão
de papéis. Sua tarefa é tocar algo em contexto com o que ele acabou de tocar,
de preferência fazendo com que parece que exista apenas 1 solista e não 2.
6. Sem praticar
com backing tracks
Mesmo querendo, nem sempre é possível tocar com os
outros o tempo todo. Todo bom atleta treina com sua equipe, mas também por
conta própria, e nós músicos devemos fazer o mesmo. Backing tracks oferecem uma
simulação não-interativa de uma banda que pode ajudá-lo a treinar uma
quantidade de coisas diferentes. O bom é que pode ser tocado quantas vezes
quiser: as backing tracks nunca se cansarão de tocar. Por outro lado, as
backing tracks são menos inspiradoras e menos divertidas do que tocar em uma
banda de verdade. Por essa razão, backing tracks não substituem pessoas, mas
elas ainda podem ser úteis.
Treinar com backing tracks deve ser parte de sua
rotina diária, mas você não deve cegamente improvisar sobre ela. Você deve ter
em mente uma técnica ou um conceito que pretende implementar no seu jogo, tais
como: “Tocar algumas notas com um bom Vibrato” ou “Vamos tentar implementar
este lick que eu acabei de aprender”. Pessoalmente, acho as backing tracks
incríveis no quesito aprender a tocar as notas “certas”, como explicado acima.
O problema é que você deve conhecer a progressão de acordes da backing track de
antemão para ser capaz de atingir os tons de acordes. Dentro do nosso site
temos várias backing tracks, inclusive, se quiserem colaborar, ajude-nos com sugestões!
7. Não tocar em
público
Por mais estranho que possa parecer, este é um dos
principais fatores que podem ajudar na improvisação do seu som. Se você está
apenas tocando para si mesmo e sem ninguém para se comunicar, então a sua
música não vai soar verdadeira. Em outros casos também, se você estiver em uma Jam
Session apenas para impressionar outros músicos, a sua música vai soar
artificial. Agora tocar para um público já estabelece outra conexão, por mais
minúsculo que o público possa parecer, a comunicação é bidirecional, dessa
forma fica mais fácil perceber o nível de sua improvisação através da reação do
público.
Eu sei que alguns guitarristas (e eu estou entre
eles), cujas improvisações ficam levemente chatas quando estamos sozinhos
(por exemplo, ao gravar em um estúdio), mas quando em frente a um público real
eles se tornam capazes de oferecer bons solos. Isso é porque eles estão se
concentrando na comunicação com o público, em vez de auto centrar na sua
capacidade técnica.
Eu sei que muitos podem estar pensando “Ah mas eu
acho que nunca vou ser capaz de pisar em um palco”, então deixe-me especificar
que a palavra “público” não significa apenas tocar para apenas 10 mil pessoas
pagantes. Duas ou três pessoas como amigos e familiares já contam como público,
já é um ponto de partida: mais uma vez, não espere ficar bom o suficiente para
praticar isso, pois caso contrário, esse dia pode nunca chegar.
8. Não ter algo
para expressar
Esta é uma parte bem pessoal, e fundamental (se não
a mais), aqui pode definir entre uma muito boa improvisação de improvisação
alucinante. Afinal de constas, esta é a principal razão que nos motiva a
aprender a tocar um instrumento musical. Basta parar por um momento e
pensar agora na última música que ouviu hoje antes de ler este artigo (ou na
música que você está ouvindo agora). Será que essa música tem um significado ou
uma emoção subjacente? É claro que tem sim. Qual é o significado dessa música?
Tenho certeza que não será difícil para você responder a essa pergunta, pois uma
música é uma expressão do que tem dentro de nós.
É essencial nos expressarmos e transmitir alguma
emoção ou sentimento enquanto tocamos, coisa meio escassa hoje em dia. Mas tem
um porém, é possível PRATICAR emoções? É sim e eu vou dizer como.
Pegue a sua guitarra, e usando apenas três notas,
tente expressar a mais profunda tristeza que você puder. Quais notas você está
usando? Como você as está tocando? Você tem apenas três notas, então é melhor
escolher bem e tocá-las bem! Agora, faça o mesmo mas tentando expressar uma serenidade
calma. Em seguida, tente expressar raiva. Em seguida, expressar arrependimento.
Alegria. Trepidação. Impaciência. Tédio. Perspicácia. Cansaço. Humor.
Divertimento. Todos estes sentimentos utilizando apenas três notas.
Faça uma lista de outras emoções que você deseja
expressar. Se você não consegue encontrar uma palavra para tal emoção, descreva
uma situação que lhe dá essa emoção (“uma tarde de verão de uma férias
tranquila”, “dirigir um carro rápido”, “espera da fila do banco haha “, etc),
em seguida, tente expressar usando apenas três notas. Repare que não há apenas
um jeito certo de fazer isso, e sim vários caminhos diferentes. Com todas as
respostas que você coletar de uma única emoção, você consegue compor um solo.
Palavras Finais
Alguns destes pontos se aplicam à sua situação, já
outros nem tanto. Talvez você precise trabalhar mais o lado técnico da coisa
(como fraseado, acordes) ou talvez você precise trabalhar mais na sua
auto-expressão. Mas o mais importante é encontrar aqui algo útil para você. Absorva
o que julgar ser importante e deixe de lado o que julgar não ser necessário.
Pare de apenas tocar notas e comece a tocar música!