Uma Breve História do
Jazz
Ouvir outros músicos de jazz é de longe a atividade isolada
mais importante que você pode fazer para aprender sobre improvisação de jazz.
Do mesmo modo que não há palavras que possam jamais descrever como é uma
pintura de Monet, nenhuma introdução que eu escreva irá descrever como é o som
de Charlie Parker. Embora seja importante para um músico criar seu próprio
estilo, isso não deve ser feito em isolamento. Você precisa estar a par do que
outros fizeram antes de você.
Estando estabelecida a importância de ouvir, a pergunta que
fica é: "Que devo ouvir?" O mais provável é que você já tenha alguma
noção dos músicos de jazz de que gosta. Geralmente, você pode começar com um
músico e a partir dele ampliar o círculo. Por exemplo, o primeiro músico de jazz
que eu escutei bastante foi o pianista Oscar Peterson. Depois de comprar uma
meia dúzia de discos dele, descobri que também gostava de alguns dos músicos
com quem ele tocava, como os trompetistas Freddie Hubbard e Dizzy Gillespie, e
comecei a comprar os discos deles também. Daí, ouvindo o pianista Herbie
Hancock tocar com Hubbard, descobri uma nova direção a explorar, uma que me
levou ao trompetista Miles Davis, e dele ao saxofonista John Coltrane, e esse
processo continua até hoje.
Parte do objetivo desta Introdução é tentar guiar você em
suas audições. O que se segue é uma breve história do jazz, com menção de
muitos músicos e discos importantes. Observe que o assunto história do jazz
gerou volumes inteiros. Alguns desses estão listados na bibliografia.
Esta Introdução faz uma rápida apresentação dos principais
períodos e estilos do jazz. Há muita superposição nas eras e estilos descritos.
As últimas seções sobre história do jazz são baseadas basicamente em princípios
desenvolvidos dos anos 40 até os 60. Esta música é às vezes chamada de corrente
principal do jazz (mainstream ou straightahead em inglês).
Os Primórdios do Jazz
As gravações mais antigas de jazz fáceis de encontrar são
dos anos 20 e do começo dos anos 30. O trompetista e vocalista Louis Armstrong
("Pops", "Satchmo") foi de longe a figura mais importante
desse período. Ele tocava com os grupos chamados Hot Five e Hot Seven; qualquer
gravação que você puder encontrar desses grupos é recomendada. O estilo desses
grupos, e de muitos outros desse período, geralmente é chamado de jazz de Nova
Orleans ou Dixieland. Ele é caracterizado pela improvisação coletiva, em que
todos os músicos tocam simultaneamente linhas melódicas improvisadas dentro da
estrutura harmônica da música. Louis, como cantor, é tido como o inventor do scat,
em que o vocalista usa sílabas sem sentido para cantarolar linhas melódicas
improvisadas. Outros músicos notáveis do jazz de Nova Orleans ou Dixieland são
o clarinetista Johnny Dodds, o saxofonista soprano Sidney Bechet, o trompetista
King Oliver e o trombonista Kid Ory.
Outros estilos populares desse período são várias formas de
jazz no piano, entre eles o ragtime, o Harlem stride, e o boogie-woogie.
Esses estilos são na verdade bem distintos uns dos outros, mas todos os três
são caracterizados por linhas rítmicas e percussivas para a mão esquerda e
linhas velozes e cheias para a mão direita. Scott Joplin e Jelly Roll Morton
foram pioneiros do ragtime. Fats Waller, Willie "The Lion" Smith e
James P. Johnson popularizaram o padrão stride para mão esquerda (baixo, acorde,
baixo, acorde); Albert Ammons e Meade Lux Lewis desenvolveram isso nos padrões
mais rápidos de movimento da mão esquerda do boogie-woogie. Earl
"Fatha" Hines foi um pianista especialmente conhecido por sua mão
direita, com a qual frequentemente, em vez de tocar acordes cheios ou arpejos,
tocava linhas puramente melódicas, típicas dos sopros. Isso virou um
lugar-comum desde então. Art Tatum é considerado por muitos como o maior
pianista de jazz de todos os tempos; ele foi certamente um dos mais bem dotados
tecnicamente, e suas descobertas harmônicas abriram caminho para muitos que
vieram depois dele. Ele é às vezes considerado um precursor do bebop.
O Jazz das Big Bands e o Swing
Embora as big bands, como são chamadas as orquestras de
jazz, sejam normalmente associadas a uma era ligeiramente posterior, havia
várias dessas orquestras tocando durante os anos 20 e o começo dos 30, entre
elas a de Fletcher Henderson. Bix Beiderbecke foi um solista de corneta que
tocava com várias bandas e era considerado uma legenda em sua época.
Os meados dos anos 30 trouxeram a Era do Swing e o
surgimento das big bands como a música popular do momento. Glenn Miller, Benny
Goodman, Tommy Dorsey, Artie Shaw, Duke Ellington e Count Basie regeram algumas
das orquestras mais conhecidas. Houve também algumas importantes gravações de
pequenos grupos de swing durante os anos 30 e 40. Essas diferiam dos pequenos
grupos anteriores porque faziam muito pouca improvisação coletiva. A música
enfatizava o solista individual. Goodman, Ellington e Basie gravaram com
frequência nesses arranjos de pequenos grupos. Entre os importantes
saxofonistas dessa era estão Johnny Hodges, Paul Gonsalves, Lester Young,
Coleman Hawkins e Ben Webster. Entre os trompetistas estão Roy Eldridge, Harry
"Sweets" Edison, Cootie Williams e Charlie Shavers. Entre os
pianistas, temos Ellington, Basie, Teddy Wilson, Erroll Garner e Oscar
Peterson; no violão, Charlie Christian, Herb Ellis, Barney Kessell e Django
Reinhardt; no vibrafone, Lionel Hampton; entre os principais baixistas estão
Jimmy Blanton, Walter Page e Slam Stewart; bateristas, Jo Jones e Sam Woodyard.
Billie Holiday, Dinah Washington e Ella Fitzgerald foram importantes cantoras
dessa era. A maioria desses músicos gravava em pequenos grupos, bem como com
grandes orquestras de jazz. Os estilos desses músicos pode ser melhor resumido
dizendo-se que eles se concentraram basicamente em tocar melodicamente, no
molejo do suingue, e no desenvolvimento da sonoridade individual. O blues foi,
como em muitos outros estilos, um importante elemento dessa música.
Bebop
O nascimento do bebop nos anos 40 é geralmente considerado
um marco do começo do jazz moderno. Esse estilo surgiu diretamente dos pequenos
grupos de swing, mas deu uma ênfase muito maior à técnica e a harmonias mais
complexas, por oposição a melodias cantáveis. Boa parte da teoria a ser
discutida mais adiante nesta Introdução deriva diretamente das inovações desse
estilo. O sax alto Charlie "Bird" Parker foi o pai desse movimento e
o trompetista Dizzy Gillespie ("Diz") foi seu principal cúmplice.
Dizzy também regeu uma big band e ajudou a introduzir a música afro-cubana,
inclusive ritmos como o mambo, para públicos americanos, por meio de seu
trabalho com percussionistas cubanos. Mas foram as gravações em quinteto e
outros grupos pequenos com Diz e Bird que formaram a fundação do bebop e da
maioria do jazz moderno.
Embora, como nos estilos anteriores, muito se tenha usado do
blues e da música popular da época, inclusive canções de George Gershwin e Cole
Porter, as composições originais dos músicos de bebop começaram a divergir da
música popular pela primeira vez, e o bebop, especialmente, não tinha intenção
de ser uma música para dançar. As composições geralmente tinham andamentos
rápidos e difíceis sequências de colcheias. Muitos dos standards do bebop são
baseados em progressões de acordes de outras músicas populares, como "I
Got Rhythm", "Cherokee" ou "How High The Moon". As
improvisações eram baseadas nas escalas subentendidas nesses acordes, e as
escalas usadas incluíam alterações como a quinta bemol.
O desenvolvimento do bebop levou a novas abordagens de
acompanhamento, bem como de solo. Bateristas começaram a depender menos do
bumbo e mais do prato de condução e do chimbal. Baixistas tornaram-se
responsáveis por manter a pulsação rítmica, passando a tocar quase que
exclusivamente uma linha do baixo que consistia principalmente de semínimas
enquanto marcavam a progressão harmônica. Os pianistas puderam usar um toque
mais leve, e em especial suas mãos esquerdas não eram mais obrigadas a definir
a pulsação rítmica ou a tocar a nota fundamental dos acordes. Além disso, a
forma padrão do jazz moderno tornou-se universal. Os músicos tocavam o tema
("the head") de uma peça, geralmente em uníssono, daí revezavam tocando
solos baseados na progressão de acordes da peça, e finalmente tocavam a melodia
novamente. A técnica de trocar quatro compassos, em que os solistas revezavam
frases de quatro compassos entre si ou com o baterista, também virou
lugar-comum. O formato padrão de quarteto e quinteto (piano, baixo, bateria;
saxofone e/ou trompete) usado no bebop mudou muito pouco desde os anos 40.
Muitos dos músicos das gerações anteriores ajudaram a abrir
o caminho para o bebop. Entre esses músicos estão Lester Young, Coleman
Hawkins, Roy Eldridge, Charlie Christian, Jimmy Blanton e Jo Jones. Young e
Hawkins especialmente são geralmente considerados dois dos mais importantes
músicos dessa empreitada. Entre outros notáveis músicos do bebop estão os
saxofonistas Sonny Stitt e Lucky Thompson, os trompetistas Fats Navarro, Kenny
Dorham e Miles Davis, os pianistas Bud Powell, Duke Jordan, Al Haig e
Thelonious Monk, o vibrafonista Milt Jackson, os baixistas Oscar Pettiford,
Tommy Potter e Charles Mingus e bateristas como Max Roach, Kenny Clarke e Roy
Haynes. Miles, Monk e Mingus fizeram avanços posteriores nas eras pós-bebop, e
a música deles será abordada mais adiante.
Cool Jazz
Embora Miles Davis tenha aparecido primeiro em gravações
bebop de Charlie Parker, sua primeira sessão importante como um líder de banda
foi chamada The Birth Of The Cool. Um álbum contendo todas as gravações desse
grupo está à venda. O estilo cool jazz foi descrito como uma reação
contra os andamentos acelerados e as complexas ideias melódicas, harmônicas e
rítmicas do bebop. Essas ideias foram apreendidas por muitos músicos da Costa
Oeste americana, e esse estilo por isso também é chamado West Coast jazz.
Essa música é geralmente mais relaxada que o bebop. Entre os outros músicos do
estilo cool estão os saxofonistas Stan Getz e Gerry Mulligan e o trompetista
Chet Baker. Stan Getz também leva o crédito pela popularização de estilos
brasileiros, como a bossa nova e o samba, nos Estados Unidos. Esses estilos e
alguns poucos outros estilos latino-americanos são às vezes chamados
coletivamente de jazz latino.
Muito grupos do estilo cool jazz não usam um piano e contam,
em vez disso, com o contraponto e a harmonização entre os instrumentos de
sopro, geralmente o saxofone e o trompete, para delinear as progressões de
acordes. Entre os grupos liderados por pianistas que saíram dessa escola estão
os de Dave Brubeck (com Paul Desmond no saxofone), Lennie Tristano (com Lee
Konitz e Warne Marsh no saxofone) e o Modern Jazz Quartet ou MJQ (com John
Lewis no piano e Milt Jackson no vibrafone), que também utiliza elementos de
música clássica. A incorporação de música clássica no jazz é geralmente chamada
de terceira corrente, ou third stream.
Hard Bop
Naquilo que foi descrito como ou uma extensão do bebop ou
uma revolta contra o cool jazz, um estilo de música conhecido como hard
bop desenvolveu-se nos anos 50. Esse estilo também desprezou as melodias
tecnicamente exigentes do bebop, mas o fez sem abandonar a intensidade. Ele fez
isso mantendo a pulsação rítmica do bebop e ao mesmo tempo incluindo uma
saudável dose de blues e da música gospel. Art Blakey And The Jazz Messengers
foram, durante décadas, o expoentes mais conhecido desse estilo. Muitos músicos
foram criados na chamada "Universidade de Blakey". Nos primeiros
grupos de Blakey estiveram o pianista Horace Silver, o trompetista Clifford
Brown e o saxofonista Lou Donaldson. Clifford Brown também dividiu a liderança
de um grupo com Max Roach que é considerado um dos melhores quintetos da
história do jazz. Vários álbuns desses grupos estão à venda atualmente e todos
são recomendados. Miles Davis também gravou vários álbuns nesse estilo durante
o começo dos anos 50. Também houve vários grupos liderados por, ou com a
participação de, organistas que vieram dessa escola, com ainda mais influência
do blues e da música gospel. O organista Jimmy Smith e o sax tenor Stanley
Turrentine foram músicos conhecidos desse gênero.
Pós-Bop
O período que vai de meados dos anos 50 até meados dos anos
60 representa o apogeu do moderno jazz mainstream. Muitos daqueles que hoje são
considerados como entre os maiores de todos os tempos alcançaram a fama nessa
época.
Miles Davis teve quatro grupos importantes durante esse período.
O primeiro tinha John Coltrane ("Trane") no saxofone tenor, Red
Garland no piano, Paul Chambers no baixo e "Philly" Joe Jones na
bateria. Esse grupo é às vezes considerado o melhor grupo de jazz de todos os
tempos. A maioria de seus álbuns está à venda atualmente, entre eles a série
com Workin'..., Steamin'..., Relaxin'... e Cookin' with the Miles Davis
Quintet. Miles aperfeiçoou seu modo brando de tocar baladas com esse grupo e a
seção rítmica foi considerada por muitos como o melhor suingue do jazz. O
segundo grupo importante de Miles surgiu com a incorporação do sax alto Julian
"Cannonball" Adderly e a substituição de Garland por Bill Evans ou
Wynton Kelly e a substituição de Jones por Jimmy Cobb. O álbum Kind Of Blue,
desse grupo, é o ponto alto da maioria das listas de discos favoritos de jazz.
O estilo básico desse grupo é chamado modal, porque ele conta com músicas
escritas em torno de escalas simples ou modos que geralmente duram muitos
compassos cada, ao contrário das harmonias rapidamente mutantes dos estilos
derivados do bebop. O terceiro grupo de Miles dessa era foi na verdade a
orquestra de Gil Evans. Miles gravou vários álbuns clássicos com Gil, inclusive
o Sketches Of Spain. O quarto grupo importante de Miles desse período tinha
Wayne Shorter no saxofone, Herbie Hancock no piano, Ron Carter no baixo e Tony
Williams na bateria. As primeiras gravações desse grupo, inclusive Live At The
Plugged Nickel, bem como o primeiro My Funny Valentine, com George Coleman no
saxofone no lugar de Wayne Shorter, apresentam principalmente versões
inovadoras de standards do jazz. Discos posteriores, como Miles Smiles e
Nefertiti, consistem de músicas originais, inclusive várias de Wayne Shorter,
que em boa parte transcendem as harmonias tradicionais. Herbie Hancock
desenvolveu uma nova abordagem de harmonização que era baseada tanto na
sonoridade quanto em qualquer fundamento teórico convencional.
John Coltrane é um outro gigante desse período. Além de
tocar com Miles, ele gravou o álbum Giant Steps, em seu próprio nome, que
mostrou que ele era um dos músicos tecnicamente mais bem dotados e
harmonicamente mais avançados do pedaço. Depois de deixar Miles, ele formou um
quarteto com o pianista McCoy Tyner, o baterista Elvin Jones e vários
baixistas, para finalmente se fixar em Jimmy Garrison. O modo de Coltrane tocar
com esse grupo mostrou que ele era um dos músicos mais intensamente emocionais
da parada. Tyner também é uma voz importante em seu instrumento, apresentando
um ataque muito percussivo. Elvin Jones é um mestre da intensidade rítmica.
Esse grupo evoluiu constantemente, desde o relativamente pós-bop do My Favorite
Things ao modal altamente energizado de A Love Supreme, e à excepcional
vanguarda de Meditations e Ascension.
Charles Mingus foi outro líder influente durante esse
período. Seus pequenos grupos tendiam a ser menos estruturados do que outros, o
que dava mais liberdade a músicos individuais, embora Mingus também dirigisse
conjuntos maiores em que a maioria das peças era escrita na pauta. As composições
de Mingus para pequenos grupos eram com frequência somente rascunhos, e os
músicos tinham suas partes às vezes compostas ou arranjadas literalmente no
tablado, com Mingus dando direções aos músicos. Eric Dolphy, que toca sax alto,
clarineta baixo e flauta, foi um dos pilares dos grupos de Mingus. Seu modo de
tocar era geralmente descrito como angular, o que quer dizer que o intervalo em
suas linhas eram frequentemente grandes saltos, ao contrário das linhas
escalares, que consistem principalmente de intervalos de um tom. O álbum
Charles Mingus Presents Charles Mingus, em que Dolphy toca, é um clássico.
Thelonious Monk é geralmente visto como um dos mais
importantes compositores do jazz, além de ser tido como um pianista altamente
original. O modo de ele tocar é mais espaçado do que o da maioria de seus
contemporâneos. Entre seus álbuns estão Brilliant Corners e Thelonious Monk
With John Coltrane. O pianista Bill Evans era conhecido como um dos músicos
mais sensíveis para tocar baladas, e seus álbuns com trio, especialmente Waltz
For Debby, com Scott LaFaro no baixo e Paul Motian na bateria, são modelos da
integração em trio. Wes Montgomery foi um dos mais influentes guitarristas do
jazz. Ele geralmente tocava em grupos com um organista, e tinha um som particularmente
comovedor. Ele também popularizou a técnica de tocar solos em oitavas. Entre
seus primeiros álbuns estão o Full House. Álbuns posteriores foram mais
comerciais e menos bem-vistos. O sax tenor Sonny Rollins rivalizava com
Coltrane em popularidade e gravou muitos álbuns sob seu próprio nome, inclusive
Saxophone Colossus e The Bridge, que também tinha Jim Hall na guitarra. Sonny
também gravou com Clifford Brown, Miles Davis, Bud Powell, Thelonious Monk e
outros gigantes.
Entre outros músicos que valem a pena destacar dessa era
estão os saxofonistas Jackie McLean, Dexter Gordon, Joe Henderson e Charlie
Rouse; os trompetistas Freddie Hubbard, Lee Morgan, Woody Shaw e Booker Little;
os trombonistas J. J. Johnson e Curtis Fuller; o clarinetista Jimmy Guiffre; os
pianistas Tommy Flanagan, Hank Jones, Bobby Timmons, Mal Waldron, Andrew Hill,
Cedar Walton, Chick Corea e Ahmad Jamal; o organista Larry Young; os
guitarristas Kenny Burrell e Joe Pass; o guitarrista e gaiteiro Toots
Thielemans; o vibrafonista Bobby Hutcherson; os baixistas Ray Brown, Percy
Heath, Sam Jones, Buster Williams, Reggie Workman, Doug Watkins e Red Mitchell;
os bateristas Billy Higgins e Ben Riley; e os vocalistas Jon Hendricks, Eddie
Jefferson, Sarah Vaughan, Betty Carter, Carmen McRae, Abbey Lincoln e Shirley
Horn. Big bands como as de Woody Herman e Stan Kenton também se destacaram.
Free Jazz e a Vanguarda
Durante estas mesmas décadas dos anos 50 e 60, alguns
músicos levaram o jazz para direções mais exploratórias. Os termos free jazz e
vanguarda são geralmente usados para descrever essas atitudes, em que as formas
tradicionais, harmonia, melodia e ritmo, foram estendidas consideravelmente, ou
até abandonadas. O saxofonista Ornette Coleman e o trompetista Don Cherry foram
pioneiros desse tipo de música em álbuns como The Shape Of Jazz To Come e Free
Jazz. O primeiro, bem como vários outros gravados com um quarteto que também
tinha ou Scott LaFaro ou Charlie Haden no baixo, e ou Billy Higgins ou Ed
Blackwell na bateria, ainda retêm a atmosfera básica do jazz dos pequenos
grupos do pós-bop tradicional, com solistas alternando sobre uma linha de baixo
e uma batida suingada de bateria. Esse estilo é às vezes conhecido como freebop.
O álbum Free Jazz foi um trabalho mais cacofônico, que apresentava improvisação
coletiva.
Outra grande figura da vanguarda do jazz foi o pianista
Cecil Taylor. A maneira de ele tocar é muito percussiva, e inclui agrupamentos
dissonantes de notas e rápidas passagens técnicas que não parecem ser baseadas
em nenhuma harmonia ou pulsação rítmica em particular.
John Coltrane, como já foi mencionado, mergulhou na
vanguarda em meados dos anos 60. Álbuns como Ascension e Interstellar Space
mostram Coltrane absorvendo tanto Free Jazz quanto os trabalhos de Cecil
Taylor. Grupos posteriores de Coltrane tinham a mulher dele, Alice, no piano e
Rashied Ali na bateria, bem como Pharoah Sanders no saxofone tenor. Ele também
gravou o álbum The Avant Garde, com Don Cherry, que é interessante por seus
paralelos com o The Shape Of Jazz To Come e outros discos do quarteto de
Ornette Coleman. Coltrane influenciou muitos outros músicos, entre eles os
saxofonistas Archie Shepp, Sam Rivers e Albert Ayler.
Sun Ra é uma figura um tanto enigmática da vanguarda do
jazz, que diz ser do planeta Saturno. Ele toca vários instrumentos de teclas
com suas big bands que vão do estilo swing dos anos 20 ao mais ousado free jazz
de Coltrane e outros.
Fusion
Miles Davis ajudou a promover a fusão do jazz com o rock de
meados para o fim dos anos 60 em álbuns como Bitches Brew e Jack Johnson.
Tocavam em suas bandas durante esse período Herbie Hancock, Chick Corea e Joe
Zawinul no piano elétrico, Ron Carter e Dave Holland no baixo, John McLaughlin
na guitarra e Tony Williams e Jack DeJohnette na bateria. Tony Williams formou
uma banda inclinada para o rock chamada Lifetime, com John McLaughlin, que
também teve seu próprio grupo de alta intensidade, a Mahavishnu Orchestra. Nos
anos 70, Miles continuou a explorar novas direções no uso de equipamentos
eletrônicos e a incorporação de elementos do funk e do rock em sua música, o
que levou a álbuns como Pangea e Agharta.
Outros grupos combinaram jazz e rock numa maneira mais
voltada para o grande público, do crossover Top 40 de Spyro Gyra e Chuck
Mangione ao guitarrista um tanto mais esotérico Pat Metheny. Entre outras
bandas populares de fusion estão a Weather Report, com Wayne Shorter, Joe
Zawinul e os baixistas Jaco Pastorius e Miroslav Vitous; Return To Forever, com
Chick Corea e o baixista Stanley Clarke; The Crusaders, com o saxofonista
Wilton Felder e o tecladista Joe Sample; a Yellowjackets, com o tecladista
Russell Ferrante; e a Jeff Lorber Fusion, que originalmente tinha Kenny G no
saxofone. Várias bandas de fusion alcançaram muito sucesso comercial, inclusive
as de Pat Metheny e Kenny G.
Jazz Pós-Moderno
Enquanto o fusion parecia dominar o mercado do jazz nos anos
70 e começo dos 80, havia também outros desenvolvimentos. Alguns músicos
começaram a tomar emprestado da música clássica do século 20 bem como da música
africana e de outras formas da música internacional. Entre esses músicos
incluem-se Don Cherry, Charlie Haden, os saxofonistas Anthony Braxton, David
Murray e Dewey Redman, o clarinetista John Carter, os pianistas Carla Bley e Muhal
Richard Abrams, o World Saxophone Quartet, com quatro saxofonistas e sem seção
rítmica, e o Art Ensemble Of Chicago, com o trompetista Lester Bowie e Roscoe
Mitchell tocando instrumentos de sopro de madeira. A música deles tendia a
enfatizar elementos composicionais mais sofisticados do que a forma
tema-solos-tema.
Alguns grupos, como o Oregon, rejeitaram a complexidade e as
dissonâncias do jazz moderno e tocaram num estilo muito mais simples, que deu
início à atual música New Age. No outro extremo estavam músicos como o
saxofonista John Zorn e os guitarristas Sonny Sharrock e Fred Frith, que se
engajaram numa frenética forma de livre improvisação às vezes chamada
"energy music". Em algum ponto no meio desses extremos estava o
duradouro grupo formado pelo saxofonista George Adams, que foi influenciado por
Coltrane e Pharoah Sanders, e o pianista Don Pullen, influenciado por Cecil
Taylor. Esse grupo pegou muito do blues, bem como da música de vanguarda.
Outros músicos importantes durante os anos 70 e 80 foram os pianistas Abdullah
Ibrahim, Paul Bley, Anthony Davis e Keith Jarrett.
Nem todos os desenvolvimentos do jazz ocorreram nos Estados
Unidos. Muitos músicos europeus estenderam algumas das ideias do free jazz de
Ornette Coleman e Cecil Taylor, e dispensaram ainda mais as formas
tradicionais. Outros se voltaram a uma música mais introspectiva. Entre os mais
bem-sucedidos dos improvisadores europeus estão os saxofonistas Evan Parker,
John Tchicai, John Surman e Jan Garbarek, os trompetistas Kenny Wheeler e Ian
Carr, o pianista John Taylor, os guitarristas Derek Bailey e Allan Holdsworth,
o baixista Eberhard Weber, o baterista John Stevens e os arranjadores Mike
Westbrook, Franz Koglman e Willem Breuker.
O Presente
Uma das grandes tendências da atualidade é um retorno às
raízes bebop e pós-bop do jazz moderno. Esse movimento é geralmente chamado de
neoclassicismo. O trompetista Wynton Marsalis e seu irmão, o saxofonista
Branford Marsalis, conseguiram muito sucesso tocando música que é baseada nos
estilos dos anos 50 e 60. Os melhores dentre esse grupo de jovens músicos,
inclusive os Marsalis e as seções rítmicas deles, com Kenny Kirkland ou Marcus
Roberts no piano, Bob Hurst no baixo e Jeff "Tain" Watts na bateria,
conseguiram estender a arte por meio de novas abordagens para melodia,
harmonia, ritmo, e forma, em vez de somente recriar a música de mestres do
passado.
Um acontecimento animador que vem desde os anos 80 é um
grupo de músicos que se refere à música que toca como "M-Base".
Aparentemente há algum desentendimento, mesmo entre seus membros, sobre o que o
termo representa exatamente, mas a música é caracterizada por linhas melódicas
angulares tocadas sobre uma complexa batida funky, com alterações rítmicas
inusitadas. Esse movimento é liderado pelos saxofonistas Steve Coleman, Greg
Osby e Gary Thomas, o trompetista Graham Haynes, o trombonista Robin Eubanks, o
baixista Anthony Cox e o baterista Marvin "Smitty" Smith.
Muitos outros músicos estão fazendo uma música com
intensidade dentro da tradição moderna. Entre os músicos já mencionados, temos
Ornette Coleman, David Murray, Joe Henderson, Dewey Redman, Cecil Taylor,
Charlie Haden, Dave Holland, Tony Williams e Jack DeJohnette. Outros incluem os
saxofonistas Phil Woods, Frank Morgan, Bobby Watson, Tim Berne, John Zorn,
Chico Freeman, Courtney Pine, Michael Brecker, Joe Lovano, Bob Berg e Jerry
Bergonzi; os clarinetistas Don Byron e Eddie Daniels; os trompetistas Tom
Harrell, Marcus Belgrave e Arturo Sandoval; os trombonistas Steve Turre e Ray
Anderson; os pianistas Geri Allen, Mulgrew Miller, Kenny Barron, Gonzalo
Rubalcaba, Eduard Simon, Renee Rosnes e Marilyn Crispell; os guitarristas John
Scofield, Bill Frisell e Kevin Eubanks; o vibrafonista Gary Burton; os baixistas
Niels-Henning Oersted Pedersen e Lonnie Plaxico; e os vocalistas Bobby McFerrin
e Cassandra Wilson. Essa não é de jeito nenhum uma lista completa, e eu
recomendo que você ouça tantos músicos quanto puder para aumentar sua percepção
e apreciação dos diferentes estilos do jazz.
Lista dos Dez
Melhores
Certamente ninguém espera que você saia correndo e compre os
discos de todos os artistas mencionados nos capítulos listados acima. Em geral,
os artistas descritos primeiro e em maior detalhe dentro de cada estilo é
considerado o mais importante. Uma lista do tipo "Os Dez Melhores"
razoavelmente consensual, com representantes de vários estilos e instrumentos,
teria Louis Armstrong, Duke Ellington, Billie Holiday, Charlie Parker, Art
Blakey, Charles Mingus, Thelonious Monk, Miles Davis, John Coltrane e Ornette
Coleman. Eles estão entre os verdadeiros gigantes do jazz. Depois disso, os
gostos pessoais começam a entrar em cena.
“Bóra” pesquisar, ouvir e estudar!
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