Desenvolvimento
Melódico
Uma de nossas principais preocupações deve ser tocar
melodicamente. Isso não necessariamente significa tocar bonitinho, mas é
preciso haver algum senso de continuidade para suas linhas melódicas, e elas
precisam ser interessantes em si mesmas. Você também precisa estar consciente
do desenvolvimento rítmico e harmônico de suas improvisações; eu incluo esses
conceitos na expressão "desenvolvimento melódico". Isso é difícil
ensinar, e é provavelmente o aspecto da improvisação que requer mais criatividade.
Qualquer um pode aprender as relações entre acordes e escalas; o que você faz
com esse conhecimento é o que determina como sua música vai soar. O livro How
To Improvise, de Hal Crook, tem muitas informações sobre o desenvolvimento
melódico, especialmente sobre variação rítmica, voltadas para o músico de nível
intermediário, enquanto The Lydian Chromatic Concept Of Tonal Organization For Improvisation, de George Russell, e A Chromatic Approach To Jazz Harmony And Melody, de David Liebman, contêm discussões avançadas e muito técnicas sobre
desenvolvimento harmônico.
Intensidade
Você precisa estar consciente do contorno de seu solo. Uma
maneira comum de estruturar um solo é baseada no modelo de como se conta uma
história. Você começa de maneira simples, vai acrescentando uma série de
tensões menores até um clímax, e aí chega a uma frase de desfecho. Isso
funciona bem na maioria das situações. No entanto, você pode querer
ocasionalmente variar desse formato. Você pode decidir começar com mais força
para abrir seu solo, ou pode querer encerrar bem no clímax, e deixar de lado o
arremate.
Pode querer manter todo o solo com um baixo nível de intensidade para
passar uma sensação relaxada, embora você nem por isso vá querer entediar seus
ouvintes. Pode querer manter o nível de intensidade num ápice controlado. Mais
ou menos como um comediante trabalhando num auditório, você pode querer alterar
suas estratégias à medida que avalia o clima da plateia. Você deve se esforçar
para ter o controle da resposta emocional que sua música gera nos ouvintes.
Há alguns expedientes comuns que podem ser usados para
estruturar seu solo. Um dos mais importantes é a repetição. Depois que um
solista toca uma frase, ele frequentemente repete ela, ou uma variação dela.
Geralmente a frase, ou a variação, é tocada três vezes antes de se passar para
alguma outra coisa. A variação pode ser transportar a frase, ou alterar notas
importantes dentro dela para conformar a frase a um novo acorde/escala. A
variação pode consistir simplesmente de começar a frase num ponto diferente do
compasso, como no terceiro tempo em vez do segundo. A frase em si pode ser
alterada ritmicamente, tocando-se mais devagar ou mais rápido.
Relacionada à ideia da repetição, está a ideia de pergunta e
resposta. Em vez de repetir a frase original, você pode considerar a frase como
uma pergunta ou chamado, e continuar com uma resposta. Esta é a analogia
musical a perguntar "você foi à loja hoje?", e então responder
"sim, eu fui à loja hoje".
Na maioria dos instrumentos, você pode aumentar a
intensidade tocando com mais volume, mais alto, e mais rápido; tocar mais
suave, mais baixo, e mais lento geralmente reduz a intensidade. Tocar padrões
rítmicos simples, como semínimas e colcheias onde o acento cai no tempo, é
geralmente menos intenso do que tocar ritmos mais complexos, tais como ritmos
sincopados, onde a maioria dos acentos cai fora do tempo. Uma hemíola é um tipo
particular de esquema rítmico em que uma métrica é superimposta a outra. Um
exemplo disso é o uso de tercinas de semínimas quando se toca num compasso 4/4.
Uma nota longa sustentada consegue também gerar intensidade
na maioria dos instrumentos, embora os pianistas talvez precisem usar trinados
ou oitavas quebradas ("rolling octaves") para alcançar esse tipo de
sustentação. Uma única nota ou frase curta repetida inúmeras vezes consegue
produzir uma espécie similar de intensidade. Você precisa usar seu próprio
julgamento para decidir o quanto é o bastante.
Construção
de Frases
As relações entre acordes e escalas não devem ser vistas
como sendo limitadoras ou determinantes de sua escolha de notas. Elas são
simplesmente um auxílio, uma maneira de ajudar você a relacionar ideias que
possa ter a dedilhados em seu instrumento. Suas ideias não devem, entretanto,
ser ditadas pelas escalas. Observe que muito poucos cantores de jazz usam
escalas extensivamente; eles geralmente conseguem traduzir uma ideia para suas
vozes mais diretamente. Por esse motivo, os instrumentistas devem praticar a
improvisação cantando, além de praticar seus instrumentos. Não importa o quanto
sua voz possa estar destreinada, ela é mais natural a você do que seu
instrumento, por isso você pode chegar à conclusão que consegue desenvolver
ideias melhor cantando-as em vez de tocando-as. Os cantores também são geralmente
limitados em sua capacidade de cantar ideias harmônicas complexas, entretanto,
porque eles não têm dedilhados bem praticados para os quais retornar. A teoria
das escalas pode ser de fato uma fonte de ideias; só assegure-se de que ela não
é sua única fonte.
Tente tocar linhas melódicas escalares que sejam baseadas
principalmente em graus conjuntos, linhas angulares que sejam baseadas
principalmente em saltos, bem como linhas que combinem as duas abordagens. Além
de se preocupar com a escolha das notas, tente variar o conteúdo rítmico de
suas ideias. Improvisadores iniciantes geralmente tocam inconscientemente quase
todas as suas frases com somente umas poucas bases rítmicas. Tente tocar linhas
que sejam baseadas principalmente em mínimas e semínimas, linhas que sejam
baseadas principalmente em colcheias e tercinas, bem como linhas que combinam
as duas abordagens.